terça-feira, 1 de abril de 2008

O tom professoral

Bem-vindo e abominável tom professoral! Sou vítima ou dele me aproveito? Tenho convicção de que não tenho a pretensão de saber as verdades do mundo, os caminhos, as rotas e desvios. Mas devo vestir muito bem esse personagem porque a ele sempre retorno, seja pelo livre arbítrio, seja pelo arbítrio dos que assim me olham. Talvez deva desistir de imaginar que culpas não tenho. Sou eu mesmo que construo essa imagem, por vezes tão amiga, em outras, fontes de incômodo e desprazer.
Não... não é verdade que eu seja alguém que possa explicar tudo, ou ter sempre uma palavra equilibrada sobre tudo.Talvez deva me permitir não ter o que dizer, o descompromisso, o conforto dos que não sabem. Do que ter que, não raras vezes, conviver com o olhar dos que imaginam sofrer a censura dos meus pensamentos, a interrogação do meu olhar. Às vezes penso o quão bom seria não ser olhada assim. E quem sabe permitir aos outros entender que também preciso de um olhar professoral, que analisa e ensina, que argumenta e sugere, que pensa comigo sobre minhas dúvidas e incertezas.
Acho que me sinto cansada de ser alguém a quem não é dado o direito de vestir a fantasia dos que querem mais ouvir do que falar, dos que não se comprometem com opiniões sobre tudo, dos que podem ser frágeis sem surpreender ao mundo.
Queria não achar que tenho sempre algo importante a dizer. Queria minimizar ou redesenhar meus pensamentos para talvez ser querida pelo que sou por inteiro, e não pela parte mais "perfeita" ou "palatável". Sou mais do que a equilibrada, a racional, a certinha, a boa profissional, a boa mãe, a quem tem um casamento legal.
A sensação de que essa outra parte não é visível é muito ruim. Ou então a culpa é minha mesmo.

Um comentário:

João Luis Guedes P. Pereira disse...

Em nossa vida pessoas vêm e vão. Algumas vêm e ficam. Algumas ficam e promovem diferença. Essas pessoas são pessoas comuns com defeitos e qualidades, mas existe um algo a mais nelas que as destacam de todo o resto. São pessoas que conquistam, que aconselham, que iluminam, que dão parte de si para compensar a necessidade do outro. Essas pessoas são requisitadas por muita gente pela essência que exalam, pelo conhecimento da vida, pelo domínio de seus atos e expressões. E exatamente por isso em determinados momentos, como qualquer ser humano normal e comum, se vêem exauridos de energia, compromissados com a vida alheia, cobrados na tentativa de serem perfeitos, equilibrados, "certinhos". Essas pessoas na verdade não escolheram ser especiais. Elas foram escolhidas. Não foi uma opção delas, mas sim uma escolha das demais. Pertencer a esse grupo seleto é enaltecedor para qualquer um, mas tem sempre um preço a ser pago. A dualidade interna que pode aparecer é o maior efeito colateral de toda essa fusão. Essas mesmas pessoas especiais que tem a capacidade de inspirar, conversar, partilhar um olhar de cumplicidade, também tem seus momentos de necessidade. Necessidade te serem ouvidas, de serem acarinhadas, de poderem também receber colo, um conselho, e até mesmo errar sem se verem cobradas de tal. Quem dá, em algum momento quer receber, e talvez em algum momento nem queira dar. É natural! É humano! É saudável! Afinal todos os "supers" tem os seus dias de "mortais".