sexta-feira, 28 de março de 2008

Vaidade

No filme Advogado do Diabo, uma frase conduz toda a história. " A vaidade é o pior dos pecados", dita pelo diabólico personagem de Al Pacino. Sempre achei que havia uma verdade imensa naquela expressão, porque sempre reconheci na vaidade um doce veneno. Encantador no primeiro instante, fonte e alimento de gloriosos momentos, mas duro, imensamente difícil na dolorosa hora de pagar.
Sou vaidosa, sim. Do que tenho como conteúdo, das espertas armas das quais faço uso, da posição que ocupo, do respeito e admiração que inspiro, até mesmo do amor que sou capaz de construir.
Claro que uso tudo isso como alimento da minha satisfação pessoal. Por outro lado, construo uma imagem de poder que me faz, talvez aos meus olhos cruéis e auto-exigentes, manipuladora. O ônus disso é mais doloroso e aprisionador do que o prazer engalanador do "sucesso" que a vaidade nos traz.
Confuso isso? Para mim, também. Mas se a vaidade me expõe, abrindo a todos o julgamento de um comportamento que eu insisto em mostrar, culpa minha. Que eu conviva com ele, aprenda com ele, seja capaz de avaliar o preço que isso custa e decidir não mais comprar. Ou pagar para ver.

Um comentário:

Jane Castelo Branco disse...

Vê, outono me lembra mudança, desnudamento, transição. Vejo-te vivendo um outono existencial.

Falar de vaidade é falar da existência, pois, tudo é vaidade. Quem não as tem? Quem não as é? Corremos por vaidade. Produzimos por vaidade. Conquistamos por vaidade. Desejamos pessoas e coisas por vaidade. Sonhamos vaidades. Cantamos vaidades. Narramos vaidades. Sofremos vaidades.
Nossas lágrimas são vaidades e nossas gargalhadas mais ainda. Afinal, quem vive sem os fugazes gostos da vaidade?
O melhor de nós que esteja em pé — se em pé aparenta estar — o está apenas pelo ‘inflamento de vento de nada’ e que o incha de vaidade.
Até nossas melhores intenções são vaidades. Nossas virtudes mais sinceras ainda são como jazida de minério precioso penetrado de lama, terra e cascalho.
Disfarçamos tudo muito bem para que nossas vaidades não se tornem feias demais aos sentidos de todos, escondemo-las muito bem. Mascaradas de amor ao próximo, de missão social e cívica, de solidariedade, de campanhas pela paz, de fervor religioso, de cruzada moral e ética, de pureza, de ação social e educacional, de piedade devocional, de dedicação às causas altruístas, de tudo o que puder passar por bom ou melhor...
Mas lá no fundo lateja a vaidade!
Todas as nossas justiças são como trapo de imundícia, e, portanto, quem se enxerga já não se gloria de nada; pois diz: “me salva das minhas virtudes, para que elas não sejam o culto do louco!”.
Minha libertação está na minha admissão sincera de total perdição ante os olhos daquEle que é. Na minha força é que preciso mais e mais de minha fraqueza. A fraqueza é o melhor antídoto contra a vaidade como virtude.

Paulo, o apóstolo, dizia que quando estava fraco, aí ele era forte porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.

Paz e bem! Diante dAquele que sabe exatamente o tamanho e o poder da vaidade em nós.