quarta-feira, 26 de março de 2008

Um homem caido na calçada

No caminho para o trabalho vi um homem caído na calçada. Parecia um mendigo, maltrapilho e sujo. Literalmente jogado sob a chuva fina que molha a cidade no dia de hoje. Bem no meio da calçada. Eu olhava a cena da rua, de dentro do carro. E as pessoas - e eu também -cruzando aquela via como se ali não houvesse um homem, caído na calçada, sob a chuva fina e inteiramente só. Abandonado até por si mesmo. Definitivamente entregue à indiferença de todos nós. O meu incômodo com a cena talvez ainda seja a esperança de que a brutalização da alma não me tenha tomado de assalto.

Um comentário:

Jane Castelo Branco disse...

Leio todos, leio sempre.
Hoje quero comentar este.

É difícil falar sobre porque fatidicamente sou levada a admitir que já me brutalizei e não sei se esse caminho tem volta. Se tem, não o conheço, mas procuro. Procuro e encontro gente que lançou milho no chão. Talvez a gente possa chegar em casa novamente. Hoje li Mário Quintana e quero dividir contigo.

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DEFICIÊNCIAS
Mário Quintana

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: 'Miseráveis' são todos que não conseguem falar com Deus.