segunda-feira, 28 de julho de 2008

Prá respirar

Sei que fugi de mim, de alguém que me surpreende e seduz, que me assusta e atrai, que me escraviza e liberta.
Sei onde estou escondida. As frestas e vielas permanecem violáveis, fugidias e fingidas, a expor a face que não mais se traveste. Mas fugi de mim, de alguém que me impõe a revolução, que atravessa as estradas e ignora o tráfego, que subverte a ordem e vai às ruas.
Barricadas incendiárias. Nem mais sei quem sou, mas ainda me trago à tona pra respirar, e me acalmar, me enganar, me perdoar. Nem tento explicar, nem quero. Fecho os olhos e os coquetéis molotov cruzam meus céus tal qual as traçantes balas da madrugada carioca.
Mas corro e escondo essa face que corrompe minha caminhada tranquila, que me impõe o trajeto tortuoso, entre pedras e declives. Sei que fugi de mim....mas já me entreguei há algum tempo.
Fui abduzida pelo encantamento e minha resistência goteja. Volto a pensar na imagem metaforizada que já não me abandona mais: o que posso fazer para conter esse mar?

terça-feira, 22 de julho de 2008

Tempo de moinhos

Quero lembrar de um tempo
entre o sim e o talvez,
onde construíamos castelos,
escutávamos moinhos,
plantávamos na terra
o verde inquietante.

Quero falar de um sonho
que criei com lucidez e delírio,
atropelando os designíos
em verbos e frases sem métrica.

Quero ver novamente teu sorriso,
nunca demasiado, sempre intenso,
a dizer-me de um tempo
entre o hoje e o amanhã.

Porque sempre é tempo..............não é mesmo?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ilações sobre o amor

Das várias ilações sobre o amor, gosto daquela que diz que nos apaixonamos pelo que reconhecemos de nós mesmos no outro. Talvez em doses mais equilibradas, talvez não. Mas é delicioso estar em sintonia de prazer e admiração com a resposta que vemos, com o olhar apenas e nem sempre com os ouvidos, no objeto de nossa paixão.
Curioso é perceber - e hoje vivi essa experiência - o quanto me fere e frustra ver - literalmente -ou reconhecer no outro o reflexo do que abomino em mim. Como as reações destrambelhadas e intempestivas, a ausência da razão, a agressividade desmedida, a mágoa revivida. Esse sentimento realmente me fere, me frustra, me faz reconhecer uma face que não me atrai ou apaixona.
O amor nos permite a interferência? A sacudidela emocional que leva o outro - ou a nós mesmos - de volta aos trilhos? A argumentação equilibrada quando os mares são de tempestade?
O amor nos permite dar feições eventualmente tragicômicas aos acontecimentos que rompem a métrica perfeita da paixão? Na verdade, acho que sim. Porque somos seres erráticos em busca de finais felizes, das paixões intermináveis, da profunda sintonia que preenche nosso corpo e alma. Sei do delírio de minhas blogueiras palavras mas, tal qual os poetas, sofro os sonhos e sonho o sofrimento.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Só porque experimentei....

Gosto de pensar em lugares para os quais desejo voltar sempre. Gosto de pensar em emoções que experimentei e que sempre penso retomar. Curioso como esse gostar nunca mais é igual, por mais prazer que ele te cause.
Tem lugares que conheci na vida e para os quais retornar é sempre um objetivo. Para alguns deles já retornei várias vezes e sempre relembrei, em outras cores e com outro olhar, o impacto que me causam. Sou carioca e não tem uma vez que atravesse o Túnel Rebouças e que não me tome do sentimento de êxtase que a visão da Lagoa Rodrigo de Freitas, descortinando-se aos meus olhos, me traz.
Amo voltar a Porto de Galinhas e embora a veja cada vez mais cidade grande, mais urbana, mais cheia de gente e lojas, sinto-me encantada diante daquele marzão absurdamente azul, em especial quando estamos próximos do meio dia. Voltaria a Paris todos os anos e ficaria novamente embasbacada diante da Champs-Élysées com o Arco do Triunfo ao fundo. Me sinto - essa é a verdade - premiada, como se desfrutar daquilo tudo fosse uma benção que me foi oferecida.
Adoro o clima praiano, simplório e, ao mesmo tempo, cosmopolita do norte da Espanha, especialmente da região da Galícia, onde meu pai vive. Tenho sempre a doce lembrança de estar sentada em um dos muitos bares da beira mar de Sanxenxo, uma cidadela absolutamente atraente.
Não abro mão nunca de um fim de tarde a caminho do Arpoador. E de um bom papo, de amigos, de bons vinhos e do ócio também. São sempre retratos dos meus momentos especiais, que retomo mas sempre experimento de forma diferente.
Pensei nisso hoje porque tenho experimentado deliciosas sensações de prazer com meus filhos. Prazer que já não mais se expressa apenas no doce e generoso carinho que trocamos, mas especialmente nos momentos em que os vejo felizes. Indescritível sensação. E por mais que esse sentimento também se revele de formas e dimensões diferentes, é bom demais.
Me sinto feliz e plena. E aí é inevitável: lembro de Paris, da Galícia, de Porto de Galinhas e do pôr-do-sol no Arpoador.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Brincando com as palavras

Quem sabe me transforme,
mude a roupa,
esqueça as máscaras,
apague do calendário os dias carnavalescos.

Quem sabe me pinte,
sorria inocentemente,
brinque de roda,
traga prá perto os duendes que adormecem no jardim.

Quem sabe corro e tropeço,
ralo o joelho,
torço o pé
e levanto com a força dos biotônicos vitamínicos.

Quem sabe digo não,
e faço birras,
enrugo a testa,
implicantemente ranzinza e boboca.

Quem sabe amadureço,
vire gente grande,
perca a pureza
e me tome das dores que desprezo.

Mas, quem sabe, perca o tino,
arranque o siso,
atravesse a estrada
e reconheça a entrada do parque.

Aí vou ser criança vestida de gente grande com joelho ralado e boboca abraçando duendes sorrindo inocentemente em dias de carnaval.

Tudo ao mesmo tempo agora!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A parcela da dor

Temos todos uma alma infeliz que, sem avisar, sorrateiramente se instala em nossas vidas como se a ela devêssemos parcelas da conta de viver? Crescer é sofrer? Amar é sofrer? Viver tem que necessariamente incluir a parcela do sofrimento?
Tenho lido tantos relatos ou olhares metaforizados sobre as dores da alma que já faz algum tempo pensei em escrever sobre isto. Nossa mente é o paraíso e o inferno. Nos faz artífices do prazer e escravos da dor de nos sabermos fracos diante do que nos faz sofrer. E sofro por amar demais, por desamar, por me sentir só ainda que cercada de gente, por querer estar só quando cercada de gente, por sentir-me sem alternativas, por ter que escolher uma entre várias, por seguir caminhos tortuosos, por entortar-me para fazer emocionalmente o caminho tranquilo.
E sofro mais ainda porque sou capaz de olhar racionalmente a dor. Engraçado isso. Nunca me dei conta da crueza desse olhar racional e analítico sobre minhas próprias emoções. E minha amiga mais amiga me disse isso outro dia. Foi quando percebi e senti a clareza dessa afirmação. Sou emocionalmente capaz de olhar a dor de dentro e de fora.Sou fogueira com a mangueira de água na mão.
Sou forte. Sei que sou. Posso tudo porque racionalmente compreendo o tudo. Um tudo, às vezes, tão pequeno. Sou fraca. Sei que sou. Porque não posso tudo, embora emocionalmente o veja possível. Me revelo nessas letras, entre as vírgulas e parágrafos. Estou repleta - especialmente hoje - de parênteses e reticências. E tantas vezes só quero que alguém me dê a mão para atravessar a rua. Alguém que pode ser você, que está agora na calçada à espera de uma pequena ou grande mão, segura e audaciosa o suficiente para cruzar a avenida e te guiar.
As dores da alma não são exclusividade dos que escrevem, dos que falam, dos que riem, dos que choram. Elas pairam no ar tal qual os vírus, dilacerantes ou não. Também queria a vacina preventiva, o diagnóstico precoce.
Queria tantas coisas. Mas hoje só queria muito te ajudar. E fazer diferença.