terça-feira, 3 de junho de 2008

A alma adolescente que ainda mora em mim

Algum resquício da alma da adolescente que fui permanece em mim. Nem toda a maturidade e experiência impedem que, eventualmente, a limitação maniqueísta dos que acham que têm toda a verdade do mundo me tome de assalto. E aí, irrefletidamente, divido o mundo entre os bons e os maus. E, é claro, estou sempre do lado dos bons. E olhe que nem sou tão boazinha assim. Mas sempre acho que estou repleta das razões que justificam minhas atitudes. E me enraiveço, tomo-me de um sentimento de indignação como se o mundo em minha volta não conseguisse ver o que, aos meus olhos nublados, parece óbvio: tenho razão, queria um mundo de seguidores a reconhecer em mim a grandeza dos filósofos e a lucidez serena dos monges.
Mas não sou nada disso. E, na verdade, não quero nada disso. Quero o equilíbrio, a serenidade possível, a tranquila observação de que o mundo está muito além da redução maniqueísta que só vê dois caminhos: ou a terra firme ou o precipício.
Quando acerto meu prumo, seguro meu timão e sigo meu caminho, o vejo sob a ótica da reflexão. Destemperos ocasionais, mas sempre mais ou menos dentro da estrada. Hoje quero muito ser capaz do exercício do silêncio. Me expor menos, especialmente na face mais tresloucada. Ficar com uma raiva ensandecida, que só me traz sentimentos de injustiça, me faz só. E sem a companhia do que tenho de mais caro a mim. Eu mesmo.

4 comentários:

Cris Medeiros disse...

Eu sempre achei que tava do lado dos maus... ehehe... Às vezes duvido disso, mas boazinha não me acho não!

Beijos

Joice Worm disse...

Ai, ai Verônica, isto é o que o Milan Kundera chama a "Insustentável Leveza do Ser".
Quem de nós não já passou por este mesmo sentimento de incertezas...
(Olhe, obrigada pelo coment. Postei um texto pequenito e bem descontraído hoje. Acho que vais gostar.)
Vou passando para te ver, agora tenho tido pouco tempo por causa dos exames de um curso que estou fazendo, mas já volto.
Muitos beijinhos para ti!!

Jane Castelo Branco disse...

Vê, enquanto você falava sobre isso hoje, tudo o que me invade no aleatório ganhou linearidade.

Ultimamente tenho percebido que só a alma adolescente é capaz de transgredir.

A transgressão me fascina.
Atrai-me o questionamento.
Tudo por uma boa proposta.
Tudo pela ousadia do porquê.
INTENSIDADE — Por que viver se ela não rege o sono que dormimos?
Gosto de suspiros — principalmente dos que freneticamente buscam encontrar o sopro da vida.

Amo exclamações, reticências e interrogações.
Odeio pontos finais e muitas vírgulas.
Gosto do sentir pelo sentir, do falar pelo falar, do ir pelo ir.

Sexo, charme, chocolate, verdade, lágrima, tesão, ópio, força, sol, ousadia, verde — tudo em maiúsculo e no superlativo!!!

Não me conte o final do filme.
Não cante a música, deixe-a tocar.

Vida — a la Downey ou a la Gandhi — venha porque te quero, contanto que me tome, contanto que valha a pena!

Amo você!!

Camilla Tebet disse...

Me identifiquei demais com esse texto. Ando pensando muito no exercício do silêncio também e falando bastante sobre ele (heheheheh).
Exatamente isso de expor-se menos. Mas querida,acredito que a ebulição adolescente vai sempre estar aqui dentro ( e aí tbém) guardadinha pra momentos especiais. E se conseguirmos equilibrar essa ebulição com uma certa proteção seremos maravilhosas não seremos?? viagem minha... adorei o texto.