segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Legítimo

Nessa tarde chuvosa de domingo leio o livro de crônicas da Martha Medeiros - Doidas e Santas - e em um dos textos ela lembra dos dias em que não estamos para festa. Tudo corre em seu ritmo normal, mas os fatos de sempre ou os novos, um acontecimento, um olhar, a força das palavras, a expectativa ou a ausência que elas nos trazem ganham uma dimensão que nos empurra para a tristeza. A isso Martha define como " um sentimento tão legítimo como a alegria". E lembra: "...que nos deixem quietos que quietude é armazenamento de força e sabedoria....daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta".
Me identifico muito com essa descrição. Porque hoje, agora, nesse minuto, me sinto triste e quero a quietude. Para pensar justamente no que me entristece, ainda que sabendo que amanhã carregarei comigo o viço da crença do novo dia. Como o cheiro do mar que quebra na praia nas manhãs sem sol. Gostoso, inspirador, quase um parto que traz consigo o sorriso dos que acompanham aquela chegada.
Porque quero pensar em chegada e esquecer as partidas. Porque quero ver minha mãe tão frágil e só pensar em compartilhar mais e mais de todo o tempo bom e rico que, juntas, me permitirão fazê-la acarinhada. Porque minha vida também está registrada naquela pequenina figura a lembrar de mim como quem cuida e roga. Como quem oferece e solicita. Como quem chega e parte.
Minha mãe... meus filhos...hoje só quero tê-los todos no meu colo e ninar com a mais harmoniosa cantiga. E dizer de amor e falar de doce e canção; e lembrar de versos e bolas de gás; de amarelinha e purê de batata. Das noites de natal e velas de aniversário.
É só uma melancolia episódica que me faz lembrar do quanto a finitude me angustia.

Amanhã, mesmo que o sol não brilhe no céu, vou fazê-lo brilhante aos meus olhos míopes.

12 comentários:

Marina disse...

Dia desses estava ouvindo uma música de ABBA (Slipping through my fingers) e percebi que não há nada que me angustie mais do que o tempo "escorregando por entre meus dedos". Saudosista por vocação, eu gosto da vida que vivo hoje, mas choro lembrando tudo o que passou. Gostaria de me apegar mais ao futuro do que ao passado, mas é um erro que não consigo evitar.

Abraço!

Cris Medeiros disse...

Eu preciso muito desses momentos de quietude, que é quando recarrego minhas baterias, para poder soltar a energia que se esvazia e um novo momento de quietude é necessário... bjs

Joice Worm disse...

Verônica,
Por vezes, a gente se sente triste. Este sentimento é um espécie de chamada de atenção do nosso organismo para que faça o corpo descansar.
Por outro lado, não é fácil ser mulher neste mundo. Sofremos por nós e por outros. Vivemos em uma sociedade que ao nosso ver, está tudo errado, mas temos que viver assim mesmo... Não é fácil ficar feliz com as notícias atrozes que sabemos através de todos os meios de comunicação...
Descanse, amiga. Todos os dias, tire umas horas diferentes para dormir. 10 minutos são bastantes.
Não me digas que não tem tempo. Invente tempo. Vais ver o resultado.
Outra coisa... O que não tem remédio, remediado está. E o que você não pode solucionar, Deus já tem em seu arquivo de "coisas a fazer". Entrega ao "Chefe". E ele lhe orientará...
(Acho que pensar assim a brincar, dá uma certa leveza, não acha?)
Beijos da Joice, a ti.

Cemitério de Ilusões disse...

hann,adoro ler
viajar ésempre muito bom
gostei da sua viagem introspectiva
adoro...
^^

Eloyna Lee

Camilla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camilla disse...

O dia de ficarmos quietinhas... é o dia em que nossa mente parece estar ocupada com as coisas que mais tem importância. Também me pego pensando na finitude. O quanto pouco sentido as coisas tem por isso. E nesses dias quero colo. Quero ter a certeza de que hoje está bom.
E vc escreveu bem. Muito bem. escreveu muito essa dor.. é dor sim. Mas para laguém não tão míope como vc sempre tem um raio de sol amanhã.
E eu pouco sei dizer da personagem que lês em mim. è muito real. Muito real. Talvez me conheças de verdade. Vai saber.

Narradora disse...

Tenho um paraquedas feito da colcha de retalhos do que eu vivi... pode não impedir a queda, mas amortece o tombo e esquenta...rs
Bjs

Tiago Soarez disse...

Verônica,

Estava pra vir aqui antes, mas o tempo andou conspirando contra mim!

Sobre seu post, concordo muito com o que a Joice disse. A tristeza é algo "necessário" sim, para a alma, corpo e vida. Mas a questão de ser mulher é algo q não posso opinar muito. Então li seu post como um observador, mas atento a todos os detalhes!

Grande beijo.

Bossa Nova Café - textos, música e arte!

Anônimo disse...

A tristeza existe para que venha a felicidade.

"O Autor", disse...

Estou começando a desconfiar que há uma epidemia de melancolia perseguindo os escritores anônimos.

Juliana David disse...

Obrigada pelas palavras amigas em um momento difícil. É bom termos amigos, mesmo que internautas. Me visite e veja a homenagem que fiz aos meus amigos.

Beijos.

Juliana David

Unknown disse...

Não sou um adpto da melancolia, mas ela bem dosada, bem colocada e bem vivida é fundamental para que sejamos completos, por que somos humanos!
O importante é estar no comando do 'dial'!!
Abraço!