segunda-feira, 20 de julho de 2009

Interlúdio

Nem toco nas paredes.
Me esgueiro entre os corredores e as palavras,
entre os gestos e os olhares.
Qualquer centelha pode fazer fogo.

Nem quero me ferir.
Me escondo atrás da porta,
entre bolsas e sapatos em desuso.
Falo pouco, lembro menos.

Qualquer movimento pode acelerar o tempo.
Um tempo em que eu não era criança
e nem podia temer o vindouro.

Piso devagar, nem faço barulho.
Adio a vida, o toque, o susto, o riso e a dor.
Ninguém me percebe atravessando a rua.

Esperto disfarce de fada, maga ladina a brincar de esconde.
Lá na frente é hora do banho, do sono.
Talvez eu nem durma.
E então abra os olhos

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Reconhecimento

Das várias ilações sobre o amor, gosto daquela que diz que nos apaixonamos pelo que reconhecemos de nós mesmos no outro. Talvez em doses mais equilibradas, talvez não. Mas é delicioso estar em sintonia de prazer e admiração com a resposta que vemos, com o olhar apenas e nem sempre com os ouvidos, no objeto de nossa paixão.

Curioso é perceber o quanto me fere e frustra ver - literalmente - ou reconhecer no outro o reflexo do que abomino em mim. Como as reações destrambelhadas e intempestivas, a ausência da razão, a agressividade desmedida, a mágoa revivida. Esse sentimento realmente me fere, me frustra, me faz reconhecer uma face que não me atrai ou apaixona.

O amor nos permite a interferência? A sacudidela emocional que leva o outro - ou a nós mesmos - de volta aos trilhos? A argumentação equilibrada quando os mares são de tempestade? O amor nos permite dar feições eventualmente tragicômicas aos acontecimentos que rompem a métrica perfeita da paixão?

Na verdade, acho que sim. Porque somos seres erráticos em busca de finais felizes, das paixões intermináveis, da profunda sintonia que preenche nosso corpo e alma. Sei do delírio de minhas blogueiras palavras mas, tal qual os poetas, sofro os sonhos e sonho o sofrimento.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A soma dos dias

Escrever mantém minhas lembranças frescas. A frase não é minha. É de Isabel Allende, escritora chilena e autora de fantásticos romances repletos de emoção e inspiração, como Paula e A Casa dos Espíritos. Mas é que penso exatamente assim: escrever é mais que ofício, mais que prazer. É contar para mim mesmo, a cada dia, uma nova versão das minhas novas e velhas histórias.

Como toda mulher latina, Isabel Allende traz em seus textos e histórias a alma da guerreira amante e maternal, a proteger seu ninho e amores acima de qualquer dor. Isabel tem uma história de vida repleta de aventuras e marcas. Sobrinha de Salvador Allende, presidente deposto e assassinado pelo golpe militar comandado por Augusto Pinochet, exilou-se com o primeiro marido e os dois filhos na Venezuela. Lá trabalhou como jornalista, aventurou-se no delirante mundo das palavras sob a forma de romance e virou a escritora de grande sucesso. Já vivendo nos Estados Unidos e em novo casamento, viu-se frente à dor da perda da filha Paula, aos 29 anos, vítima de uma gripe equivocadamente tratada com remédios letais para uma portadora de porfíria (doença auto-imune que determina um distúrbio na síntese da hemoglobina). Dessa história trágica e do relato da experiência cruel de uma mãe acompanhando a agonia da filha, nasceu o romance Paula, talvez o mais famoso livro da escritora.

No final da semana passada terminei de ler A Soma dos Dias, livro de Isabel Allende do qual gostaria de falar na minha crônica de hoje e sugerir a leitura. É um livro de memórias, onde a escritora entrega-se, apaixonadamente, à missão de contar para a filha, onde quer que viva seu espírito, o que aconteceu com toda a família a partir do momento em que Paula entrou em coma. E Isabel faz isso com avassaladora paixão, mas com um delicioso e bem-humorado relato dos casos e histórias de uma casa repleta dos netos que nascem, dos amigos que chegam, dos conflitos, dos encontros, dos amigos que partem, do amor maduro e diferente, embora não menos intenso e apaixonado, que ela passa a viver com Willie, o segundo marido e grande companheiro da guerreira latina.

Sou leitora voraz! Sempre tenho livros na fila e à espera das minhas mãos e olhos ávidos por histórias e viagens da alma. Mas gosto demais quando embarco num livro tal qual estivesse, criança ainda, ouvindo e construindo ao meu lado o cenário de uma história onde me reconheço personagem. Isabel Allende escreve para mim, para você, para quem é capaz de ver, sentir e lembrar, em cada trecho, dos sinais e cheiros que fazem parte da soma dos dias da vida de todos nós.

Me senti inteiramente retratada no livro quando Isabel, falando do pragmatismo de seu filho Nico, conta das três regras básicas que ele aplica nas suas relações humanas: nada é pessoal, cada um é responsável por seus sentimentos, e a vida não é justa. Agora, fale: você não conhece pessoas que são exatamente assim? Acho mesmo que existem mais homens do que mulheres com esse olhar sobre a vida. E muitas vezes, quando estou tomada pelo sentimento de indignação diante do que me aflige, chego a pensar que gostaria de um equilíbrio cartesiano desses. Mas não sou assim. E nem Isabel, que pertence àquela categoria, na qual me incluo, e para qual ela escreve: “Para mim tudo é pessoal, me sinto responsável pelos sentimentos dos outros, inclusive no caso de gente que mal conheço, e carrego mais de sessenta anos de frustração porque não posso aceitar que a vida seja injusta”.

E é a mesma mãe latina que conversa com a filha como se ela estivesse ali, sentada no sofá; que brinca e faz piada; que lembra dos tropeços inconfessáveis; dos amores errados e dos errados amores; que fala da agonia de vê-la inerte durante o coma...essa mesma mulher conta com diversão, picardia e prazer do grupo de cinco amigas com as quais forma o círculo das Irmãs da Perpétua Desordem, de quem Isabel fala assim: “agora sou uma delas...compartilhamos nossas vidas, meditamos, oramos pelos doentes e também trocamos maquiagem, bebemos champanhe, nos fartamos de bombons e, às vezes, vamos à ópera, porque a prática espiritual em seco me deprime um pouco”. E aí, Criativas, que tal???

Bom humor expresso também na curiosa e rica relação com os três netos, para quem Isabel fez cumprir a promessa de escrever para cada criança um livro de ficção e aventuras. Divertidíssima – pelo menos aos meus olhos – a maneira como ela conta a experiência de tentar encontrar dentro de si a criança que acreditava na fantasia mágica de monstros e dragões. Para tanto, e com a solidariedade total do marido, ela encara a aventura xamânica de sair do próprio corpo através do chá alucinógeno de ayahuasca, uma poção preparada com a planta trepadeira Banisteriopsis, também conhecida como Santo Daime.

É também com graça e humor refinado que ela fala da relação madura com o marido Willie, já bem perto dos setenta anos. Segundo a receita de Isabel, outono não é apenas a estação dourada do ano, mas a idade em que se deixa de ser jovem. E ela brinca dizendo que se antes tinha as antenas prontas para captar a energia masculina no ar, depois dos 60 as antenas enferrujaram e agora só o companheiro a atrai. Bem,,,,,o Antonio Banderas também. Em compensação, se o sexo não é mais tão intenso, não há nada mais intenso do que a intensidade daquele amor. Deliciosa sensação.

Enfim, “A Soma dos Dias“ é fundamentalmente uma história de amor. Pela pátria, pelos filhos, pela família, pela vida, pelos amores e pessoas que passam por nossas vidas. Gosto dessa ideia e penso um dia na história de amor que vou contar. Acho que nem vou precisar da experiência xamânica. Talvez da inspiração mediúnica que por vezes me toma e me leva pros lugares mais escondidos da alma e onde me surpreendo e me encontro. Lendo o livro que aqui recomendo, me vi várias vezes embarcando nessa deliciosa viagem. Chorei algumas vezes, mas ri divertidamente várias outras.

E porque escrever mantém minhas lembranças frescas, encerro por aqui lembrando uma frase que marca essa semana: das razões prá festejar, o amor será sempre o maior porquê.

(essa crônica foi originalmente publicada no meu outro blog, o Criative-se ( www.criativesse.blogspot.com), onde posto todas as sextas-feiras. Por sugestão da Janaína Amado, do blog Acreditando no Truque, vou trazer alguns desses textos para aqui também. Obrigado, Janaína!!!)



sexta-feira, 8 de maio de 2009

Para o dia de hoje

Prisão

E ao te ver fez-se o encanto,
misteriosa alquimia que desafia os sábios
e entorpece a razão.

Mas que razão há nesse canto?
Se só a infinita harmonia que explica o universo
e decifra meus códigos.

Que expõe descaradamente o que goteja e escorre.
E não há dique salvador que possa conter esse mar.

O som da tua alma cruzou o meu caminho
e eu só estendi a mão e segurei.

Há prisão mais libertadora?

sábado, 25 de abril de 2009

Sob a chuva

Ando sumida daqui, mas não ando sumida de mim. Tenho escrito tanto, falado tanto, andado pelos meandros da alma, buscando sempre algo que sei que habita em mim. Talvez meio sem saco, quem sabe devagarinho. Mas planejando o grande salto. Ando sentindo algum medo e isso alimenta, mas desconforta. Prá quem bebe na fonte das certezas, a chuva de dúvidas quase afoga.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Expiração

Na última semana, meu post no outro blog ( www.criativesse.blogspot.com) falava do aperto que me toma a alma quando a inspiração me foge e preciso fazer-me escrava não mais das palavras, mas da dor de não tê-las sob meu domínio. Uma amiga comentou que talvez aquele momento fugaz da não inspiração nada mais fosse do que a pausa para a expiração. Silenciosa e serena como a solidão, não raras vezes, se expressa.
Curiosamente, o tema da inspiração fugidia me cercou em dias seguidos. Não mais com os meus textos, os profissionais, emocionais ou confessionais, mas com os textos que li, dos autores que gosto, dos blogs que frequento e admiro. Revi essa angústia nos textos do Marcelo Martins, do Amenidades, a quem admiro pelo relato, pela forma, pelo conteúdo; nas palavras complexas e tocantes da Camila Tebet, do Esse Papo Também; na coluna semanal da Martha Medeiros na
Revista O Globo, no domingo, leitura que não perco e que preenche minhas manhãs cheirando a café; e também em alguns saborosos trechos do imperdível A Soma dos Dias, de Isabel Allende, alma repleta da sabedoria de viver, pungente e bem-humorada, as dores que as pedras impõem ao nosso caminho.

Pensei na coincidência, mas especialmente na argumentação de minha amiga. Estamos todos expirando? Renovando os ares, limpando os canos, abrindo os chacras, desimpedindo as chaminés? É bom pensar que sim. Esses períodos sabáticos sempre me são pródigos, mesmo quando me sinto afogar pelas palavras. Nessas horas respiro devagarzinho, poupo os órgãos, os gestos grandiloquentes. Nem sempre é tempo dos grandes e profundos mergulhos. Quem sabe uma molhadinha rápida na beira d'água; quem sabe um subida fugaz para pegar um ar.
Somos escravos da palavra, mas feitores também. A gente sempre coloca tudo em ordem. Seja a ordem do jeito que for.

terça-feira, 3 de março de 2009

A força dos atos e palavras

Os que me conhecem já ouviram falar disso. Sou do tipo que acredita realmente que é possível mudar o mundo. Eu posso mudar o mundo e não desisto dessa idéia. Ideologias à parte, acho que somos agentes de transformação e que não recebemos a benção de um cérebro tão sofisticado apenas para andar, falar, interagir, envelhecer e morrer. Quero mais! Muito mais! E na parte que me cabe, não posso prescindir da força inequívoca de meus atos e palavras - e não só os meus, mas o de todos - no objetivo de fazê-los instrumentos de interferência e argumentação. Acho que posso mudar cabeças tacanhas, fazendo-as apenas observar além dos antolhos que por vezes colocamos em nós mesmos. Quero romper com práticas que minimalizam a nossa capacidade de raciocinar, impondo modelos repetidos e que, de maneira geral, sempre nos frustram. Busco e distribuo palavras de afeto - às vezes nem tão afetuosas assim - porque fazer alguém confiante é o primeiro passo para fazê-lo acreditar que sonhar é mais do que dormir e metaforizar no subconsciente. Não raras vezes estou na contramão da história, batendo de frente com quem alimenta o imobilismo, aprisionado aos grilhões de uma vida metodicamente ditatorial.É claro que muitas vezes também não estou fazendo nada disso e preciso me despertar para voltar a acreditar que posso mudar o mundo, que sou responsável pelo o que me incomoda e que para desestabilizar as zonas de conforto é necessário enfrentar os recuos que o medo da mudança nos impõe.Não quero desistir disso, de acreditar nisso. Não quero me render ao imobilismo. Não quero ficar somente pragmática. Porque sem emoção não há como mudar o mundo. Somos cavaleiros errantes a crer em moinhos. E nem acho tudo isso um delírio. Não posso passar essa experiência de vida sem usar as mil e uma utilidades de meu cinto de Batman.Se isso tem ônus? Muitos. Às vezes, quase impagáveis. Mas já faz tempo que escolhi não esmorecer. Quando acho que não vou agüentar, fecho a porta e choro. E amargo o luto. Mas no dia seguinte volto à normalidade. O que não quer dizer que tudo isso seja o normal. Nem sei se é. Mas, quando ainda estudante universitária, aprendi a frase que guia a minha vida: quem não atua, compactua.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Me faz melhor

Às vezes me sinto tão boba, tão infantil. Principalmente quando perco a métrica dos meus passos e, serena ou trôpega, dou importância e essencialidade ao que realmente não tem tanto valor. E até sofro, busco explicações, me sinto meio mártir, meio vítima.
Mas hoje realmente decidi relembrar para mim mesmo que Importante é sempre o que me faz melhor.
E nem me importo que assim o seja numa ótica completamente universal, fora dos meus conceitos pessoais e auto-perdoáveis.
Me faz melhor quem me ama e vê em mim o que nem sempre posso compreender ou perceber. Me faz melhor o que me inspira o instante tênue e bom do prazer.
Me faz melhor o que parece inatingível e que, ocasionalmente, se descortina ao meu olhar.
Me faz melhor quem me oferece a visão do que me escondo.
Me faz melhor acreditar que posso, mesmo quando a impotência é a única mão próxima.
Me faz melhor um dia de sol, sentir o luar, uma tarde sob a brisa, o abraço dos filhos, a compreensão do amor, a benção do raciocínio, a rapidez do instinto, o cheiro que reconheço, o sabor que traz lembranças, a certeza tão pequena e tão grande do amanhã

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Criative-se

Nunca pensei em fazer nada que não fôsse a profissão que exerço. Sempre quis ser jornalista e, dentro da carreira, já atravessei períodos solares e lunares. Escrevi de textos sobre economia à vida mundana das celebridades. Fui repórter, redatora, coordenadora editorial e nos últimos quatro anos sou gerente editorial de uma editora científica. Aliás, para os que não sabem, informo que faço há muitos anos jornalismo científico. 90% dos clientes da editora onde trabalho são empresas do segmento farmacêutico e seus projetos dirigidos à classe médica.
Ainda assim escrevo muito. No blog e no mundo real. Neste, obviamente, nem sempre com prazer ou mesmo inspiração. Ah...vale informar que acumulo a gerência comercial também, o que me leva não apenas ao mundo dos números, mas também para o da rentabilidade, juros, movimentação bancária, investimento, empréstimo.....grana, enfim.
Assim, como boa parte da população brasileira, passeio entre a realização e a necessidade financeira. Pessoal e da empresa também. E nesse liquidificador de emoções, que mistura o desejo do cliente, o palpite do cliente, o desconhecimento do cliente e a minha visão do projeto, do texto, do conceito editorial....nem sempre navego em águas calmas, muito menos com o delicioso sentimento da realização.
Foi pensando em tudo isso, e querendo voltar a viver o sonho social-libertário do ofício só pelo bem e o prazer do ofício, que pensei num espaço virtual onde estivessem reunidas pessoas que, como eu, gostariam de encontrar um espaço onde pudessem criar - e divulgar - o que fazem e sem a preocupação de fazer disso um caminho para ganhar dinheiro. Embora seja ótimo se a grana acontecer.
Enfim, em muito breve estará no ar o Criative-se ( www.criativesse.blogspot.com), espaço virtual onde eu e mais quatro profissionais liberais das áreas do Design Gráfico, Publicidade, Farmácia e Arquitetura, possamos ser mais do que experimentamos em nossas vidas profissionais. Ou seja, mentes criativas com espaço para produzir o que nos dá prazer e fazendo desse novo planeta um show-room colorido de nossas idéias e projetos nas áreas do design, fotografia, decoração, festas, drinks......e textos também, é claro. Uma palavra para tudo isso? Criative-se e será fácil entender e desejar
Bom...é sermpre tempo de ser mais feliz!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Verbo: Sentir. Tempo: Presente

Fui ao primeiro encontro do grupo de meditação. Na verdade, esse é o primeiro degrau de uma escada que vou encarar como um mote para 2009. Abrir espaço para o auto-conhecimento; oferecer-me a possibilidade de um olhar endógeno que me permita - quem sabe - desenvolver ou explorar mais o meu sexto-sentido: a consciência do que sou e do que realmente pertence ao meu tempo presente.
Como bem disse o mestre do grupo, passamos a maior parte de nossas vidas entre o passado e o futuro, pensando nas marcas das histórias que carregamos ou no que planejamos para o depois. Mas ao presente mesmo, ao nosso tempo real e às múltiplas possibilidades que ele oferece, somos sempre parcimoniosos.
Sentir é o verbo do nosso presente. Quando sentimos faz-se a ponte que nos traz para o tempo de hoje. É curioso pensar nisso porque sentir representa sempre um novo olhar sobre a vida, sobre os amores, as dores que temos e as formas, ferramentas que dispomos para fazê-las melhores. Reconhecer o caminho da dor é descobrir onde queima os pés e pensar livremente sobre como ser capaz de mudar de rumo.
Não quero mais gastar tantas horas do meu dia a revolver a lama em busca do anel que ali deixei se perder. No tempo presente posso sim ser o jardineiro de um jardim onde flores nascem e morrem, onde há tempo de floração e de seca, onde há cores e espinhos. Mas posso limpar sempre esse jardim, revolver a terra e, principalmente, retirar as ervas daninhas, as folhas secas., o que ficou para trás e não mais me pertence. Posso adubar, plantar de novo.
É isso...preciso da nova planta sempre; do ciclo vital que começa e se renova. Só eu posso ver e mudar a minha vida, só eu conheço verdadeiramente o ciclo da minha história.
Virar a página, com toda a sabedoria adquirida, é a grande vibe.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mantra do novo ano

Eu só quero ser feliz! Se existe mantra para repetir, e crer e construir no novo ano....é assim que quero que seja. E que venha do jeito que for: com dor ou prazer; atropelos ou delírios; tensão ou torpor. Porque ser feliz é sempre uma atitude revolucionária. Significa viver de olhos abertos para enxergar o que e para onde aponta aquele que sempre nos fala a verdade antes do crivo daquele que nos mente: nós mesmos.
Quero subverter minhas mais frequentes mentiras e reconhecer-me naquilo que é essencial, naquilo que me oferece o segundo fugaz da plenitude. Ser feliz é descrer da conquista efêmera, do estrelato vaidoso cujo palco nos faz personagens de comédia bufa. Porque os aplausos cegam e nos impedem o sutil e sereno trajeto sob a luz clarividente dos dias de sol. Ou de chuva fina.
Quero ser feliz para poder ver e inventar. Respirar para dentro e descobrir-me ou descubrir-me por fora. Criar o caminho onde meus passos tropeçam, mas não atropelam; onde ralo meus joelhos, mas sei da boa cura do sopro amoroso.
Quero ser feliz sem me importar com as conquistas, só com a vontade. À vontade. Quero ser feliz porque acredito e invisto no amor, inadvertido ou previsível; de risco ou com retorno garantido.
Quero a viagem, a procura, o encontro. Cavaleiro andante que ouve moinhos, lê estrelas e admira o mar.