Nem toco nas paredes.
Me esgueiro entre os corredores e as palavras,
entre os gestos e os olhares.
Qualquer centelha pode fazer fogo.
Nem quero me ferir.
Me escondo atrás da porta,
entre bolsas e sapatos em desuso.
Falo pouco, lembro menos.
Qualquer movimento pode acelerar o tempo.
Um tempo em que eu não era criança
e nem podia temer o vindouro.
Piso devagar, nem faço barulho.
Adio a vida, o toque, o susto, o riso e a dor.
Ninguém me percebe atravessando a rua.
Esperto disfarce de fada, maga ladina a brincar de esconde.
Lá na frente é hora do banho, do sono.
Talvez eu nem durma.
E então abra os olhos
segunda-feira, 20 de julho de 2009
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Reconhecimento
Das várias ilações sobre o amor, gosto daquela que diz que nos apaixonamos pelo que reconhecemos de nós mesmos no outro. Talvez em doses mais equilibradas, talvez não. Mas é delicioso estar em sintonia de prazer e admiração com a resposta que vemos, com o olhar apenas e nem sempre com os ouvidos, no objeto de nossa paixão.
Curioso é perceber o quanto me fere e frustra ver - literalmente - ou reconhecer no outro o reflexo do que abomino em mim. Como as reações destrambelhadas e intempestivas, a ausência da razão, a agressividade desmedida, a mágoa revivida. Esse sentimento realmente me fere, me frustra, me faz reconhecer uma face que não me atrai ou apaixona.
O amor nos permite a interferência? A sacudidela emocional que leva o outro - ou a nós mesmos - de volta aos trilhos? A argumentação equilibrada quando os mares são de tempestade? O amor nos permite dar feições eventualmente tragicômicas aos acontecimentos que rompem a métrica perfeita da paixão?
Na verdade, acho que sim. Porque somos seres erráticos em busca de finais felizes, das paixões intermináveis, da profunda sintonia que preenche nosso corpo e alma. Sei do delírio de minhas blogueiras palavras mas, tal qual os poetas, sofro os sonhos e sonho o sofrimento.
Curioso é perceber o quanto me fere e frustra ver - literalmente - ou reconhecer no outro o reflexo do que abomino em mim. Como as reações destrambelhadas e intempestivas, a ausência da razão, a agressividade desmedida, a mágoa revivida. Esse sentimento realmente me fere, me frustra, me faz reconhecer uma face que não me atrai ou apaixona.
O amor nos permite a interferência? A sacudidela emocional que leva o outro - ou a nós mesmos - de volta aos trilhos? A argumentação equilibrada quando os mares são de tempestade? O amor nos permite dar feições eventualmente tragicômicas aos acontecimentos que rompem a métrica perfeita da paixão?
Na verdade, acho que sim. Porque somos seres erráticos em busca de finais felizes, das paixões intermináveis, da profunda sintonia que preenche nosso corpo e alma. Sei do delírio de minhas blogueiras palavras mas, tal qual os poetas, sofro os sonhos e sonho o sofrimento.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
A soma dos dias
Escrever mantém minhas lembranças frescas. A frase não é minha. É de Isabel Allende, escritora chilena e autora de fantásticos romances repletos de emoção e inspiração, como Paula e A Casa dos Espíritos. Mas é que penso exatamente assim: escrever é mais que ofício, mais que prazer. É contar para mim mesmo, a cada dia, uma nova versão das minhas novas e velhas histórias.
Como toda mulher latina, Isabel Allende traz em seus textos e histórias a alma da guerreira amante e maternal, a proteger seu ninho e amores acima de qualquer dor. Isabel tem uma história de vida repleta de aventuras e marcas. Sobrinha de Salvador Allende, presidente deposto e assassinado pelo golpe militar comandado por Augusto Pinochet, exilou-se com o primeiro marido e os dois filhos na Venezuela. Lá trabalhou como jornalista, aventurou-se no delirante mundo das palavras sob a forma de romance e virou a escritora de grande sucesso. Já vivendo nos Estados Unidos e em novo casamento, viu-se frente à dor da perda da filha Paula, aos 29 anos, vítima de uma gripe equivocadamente tratada com remédios letais para uma portadora de porfíria (doença auto-imune que determina um distúrbio na síntese da hemoglobina). Dessa história trágica e do relato da experiência cruel de uma mãe acompanhando a agonia da filha, nasceu o romance Paula, talvez o mais famoso livro da escritora.
No final da semana passada terminei de ler A Soma dos Dias, livro de Isabel Allende do qual gostaria de falar na minha crônica de hoje e sugerir a leitura. É um livro de memórias, onde a escritora entrega-se, apaixonadamente, à missão de contar para a filha, onde quer que viva seu espírito, o que aconteceu com toda a família a partir do momento em que Paula entrou em coma. E Isabel faz isso com avassaladora paixão, mas com um delicioso e bem-humorado relato dos casos e histórias de uma casa repleta dos netos que nascem, dos amigos que chegam, dos conflitos, dos encontros, dos amigos que partem, do amor maduro e diferente, embora não menos intenso e apaixonado, que ela passa a viver com Willie, o segundo marido e grande companheiro da guerreira latina.
Sou leitora voraz! Sempre tenho livros na fila e à espera das minhas mãos e olhos ávidos por histórias e viagens da alma. Mas gosto demais quando embarco num livro tal qual estivesse, criança ainda, ouvindo e construindo ao meu lado o cenário de uma história onde me reconheço personagem. Isabel Allende escreve para mim, para você, para quem é capaz de ver, sentir e lembrar, em cada trecho, dos sinais e cheiros que fazem parte da soma dos dias da vida de todos nós.
Me senti inteiramente retratada no livro quando Isabel, falando do pragmatismo de seu filho Nico, conta das três regras básicas que ele aplica nas suas relações humanas: nada é pessoal, cada um é responsável por seus sentimentos, e a vida não é justa. Agora, fale: você não conhece pessoas que são exatamente assim? Acho mesmo que existem mais homens do que mulheres com esse olhar sobre a vida. E muitas vezes, quando estou tomada pelo sentimento de indignação diante do que me aflige, chego a pensar que gostaria de um equilíbrio cartesiano desses. Mas não sou assim. E nem Isabel, que pertence àquela categoria, na qual me incluo, e para qual ela escreve: “Para mim tudo é pessoal, me sinto responsável pelos sentimentos dos outros, inclusive no caso de gente que mal conheço, e carrego mais de sessenta anos de frustração porque não posso aceitar que a vida seja injusta”.
E é a mesma mãe latina que conversa com a filha como se ela estivesse ali, sentada no sofá; que brinca e faz piada; que lembra dos tropeços inconfessáveis; dos amores errados e dos errados amores; que fala da agonia de vê-la inerte durante o coma...essa mesma mulher conta com diversão, picardia e prazer do grupo de cinco amigas com as quais forma o círculo das Irmãs da Perpétua Desordem, de quem Isabel fala assim: “agora sou uma delas...compartilhamos nossas vidas, meditamos, oramos pelos doentes e também trocamos maquiagem, bebemos champanhe, nos fartamos de bombons e, às vezes, vamos à ópera, porque a prática espiritual em seco me deprime um pouco”. E aí, Criativas, que tal???
Bom humor expresso também na curiosa e rica relação com os três netos, para quem Isabel fez cumprir a promessa de escrever para cada criança um livro de ficção e aventuras. Divertidíssima – pelo menos aos meus olhos – a maneira como ela conta a experiência de tentar encontrar dentro de si a criança que acreditava na fantasia mágica de monstros e dragões. Para tanto, e com a solidariedade total do marido, ela encara a aventura xamânica de sair do próprio corpo através do chá alucinógeno de ayahuasca, uma poção preparada com a planta trepadeira Banisteriopsis, também conhecida como Santo Daime.
É também com graça e humor refinado que ela fala da relação madura com o marido Willie, já bem perto dos setenta anos. Segundo a receita de Isabel, outono não é apenas a estação dourada do ano, mas a idade em que se deixa de ser jovem. E ela brinca dizendo que se antes tinha as antenas prontas para captar a energia masculina no ar, depois dos 60 as antenas enferrujaram e agora só o companheiro a atrai. Bem,,,,,o Antonio Banderas também. Em compensação, se o sexo não é mais tão intenso, não há nada mais intenso do que a intensidade daquele amor. Deliciosa sensação.
Enfim, “A Soma dos Dias“ é fundamentalmente uma história de amor. Pela pátria, pelos filhos, pela família, pela vida, pelos amores e pessoas que passam por nossas vidas. Gosto dessa ideia e penso um dia na história de amor que vou contar. Acho que nem vou precisar da experiência xamânica. Talvez da inspiração mediúnica que por vezes me toma e me leva pros lugares mais escondidos da alma e onde me surpreendo e me encontro. Lendo o livro que aqui recomendo, me vi várias vezes embarcando nessa deliciosa viagem. Chorei algumas vezes, mas ri divertidamente várias outras.
E porque escrever mantém minhas lembranças frescas, encerro por aqui lembrando uma frase que marca essa semana: das razões prá festejar, o amor será sempre o maior porquê.
Como toda mulher latina, Isabel Allende traz em seus textos e histórias a alma da guerreira amante e maternal, a proteger seu ninho e amores acima de qualquer dor. Isabel tem uma história de vida repleta de aventuras e marcas. Sobrinha de Salvador Allende, presidente deposto e assassinado pelo golpe militar comandado por Augusto Pinochet, exilou-se com o primeiro marido e os dois filhos na Venezuela. Lá trabalhou como jornalista, aventurou-se no delirante mundo das palavras sob a forma de romance e virou a escritora de grande sucesso. Já vivendo nos Estados Unidos e em novo casamento, viu-se frente à dor da perda da filha Paula, aos 29 anos, vítima de uma gripe equivocadamente tratada com remédios letais para uma portadora de porfíria (doença auto-imune que determina um distúrbio na síntese da hemoglobina). Dessa história trágica e do relato da experiência cruel de uma mãe acompanhando a agonia da filha, nasceu o romance Paula, talvez o mais famoso livro da escritora.
No final da semana passada terminei de ler A Soma dos Dias, livro de Isabel Allende do qual gostaria de falar na minha crônica de hoje e sugerir a leitura. É um livro de memórias, onde a escritora entrega-se, apaixonadamente, à missão de contar para a filha, onde quer que viva seu espírito, o que aconteceu com toda a família a partir do momento em que Paula entrou em coma. E Isabel faz isso com avassaladora paixão, mas com um delicioso e bem-humorado relato dos casos e histórias de uma casa repleta dos netos que nascem, dos amigos que chegam, dos conflitos, dos encontros, dos amigos que partem, do amor maduro e diferente, embora não menos intenso e apaixonado, que ela passa a viver com Willie, o segundo marido e grande companheiro da guerreira latina.
Sou leitora voraz! Sempre tenho livros na fila e à espera das minhas mãos e olhos ávidos por histórias e viagens da alma. Mas gosto demais quando embarco num livro tal qual estivesse, criança ainda, ouvindo e construindo ao meu lado o cenário de uma história onde me reconheço personagem. Isabel Allende escreve para mim, para você, para quem é capaz de ver, sentir e lembrar, em cada trecho, dos sinais e cheiros que fazem parte da soma dos dias da vida de todos nós.
Me senti inteiramente retratada no livro quando Isabel, falando do pragmatismo de seu filho Nico, conta das três regras básicas que ele aplica nas suas relações humanas: nada é pessoal, cada um é responsável por seus sentimentos, e a vida não é justa. Agora, fale: você não conhece pessoas que são exatamente assim? Acho mesmo que existem mais homens do que mulheres com esse olhar sobre a vida. E muitas vezes, quando estou tomada pelo sentimento de indignação diante do que me aflige, chego a pensar que gostaria de um equilíbrio cartesiano desses. Mas não sou assim. E nem Isabel, que pertence àquela categoria, na qual me incluo, e para qual ela escreve: “Para mim tudo é pessoal, me sinto responsável pelos sentimentos dos outros, inclusive no caso de gente que mal conheço, e carrego mais de sessenta anos de frustração porque não posso aceitar que a vida seja injusta”.
E é a mesma mãe latina que conversa com a filha como se ela estivesse ali, sentada no sofá; que brinca e faz piada; que lembra dos tropeços inconfessáveis; dos amores errados e dos errados amores; que fala da agonia de vê-la inerte durante o coma...essa mesma mulher conta com diversão, picardia e prazer do grupo de cinco amigas com as quais forma o círculo das Irmãs da Perpétua Desordem, de quem Isabel fala assim: “agora sou uma delas...compartilhamos nossas vidas, meditamos, oramos pelos doentes e também trocamos maquiagem, bebemos champanhe, nos fartamos de bombons e, às vezes, vamos à ópera, porque a prática espiritual em seco me deprime um pouco”. E aí, Criativas, que tal???
Bom humor expresso também na curiosa e rica relação com os três netos, para quem Isabel fez cumprir a promessa de escrever para cada criança um livro de ficção e aventuras. Divertidíssima – pelo menos aos meus olhos – a maneira como ela conta a experiência de tentar encontrar dentro de si a criança que acreditava na fantasia mágica de monstros e dragões. Para tanto, e com a solidariedade total do marido, ela encara a aventura xamânica de sair do próprio corpo através do chá alucinógeno de ayahuasca, uma poção preparada com a planta trepadeira Banisteriopsis, também conhecida como Santo Daime.
É também com graça e humor refinado que ela fala da relação madura com o marido Willie, já bem perto dos setenta anos. Segundo a receita de Isabel, outono não é apenas a estação dourada do ano, mas a idade em que se deixa de ser jovem. E ela brinca dizendo que se antes tinha as antenas prontas para captar a energia masculina no ar, depois dos 60 as antenas enferrujaram e agora só o companheiro a atrai. Bem,,,,,o Antonio Banderas também. Em compensação, se o sexo não é mais tão intenso, não há nada mais intenso do que a intensidade daquele amor. Deliciosa sensação.
Enfim, “A Soma dos Dias“ é fundamentalmente uma história de amor. Pela pátria, pelos filhos, pela família, pela vida, pelos amores e pessoas que passam por nossas vidas. Gosto dessa ideia e penso um dia na história de amor que vou contar. Acho que nem vou precisar da experiência xamânica. Talvez da inspiração mediúnica que por vezes me toma e me leva pros lugares mais escondidos da alma e onde me surpreendo e me encontro. Lendo o livro que aqui recomendo, me vi várias vezes embarcando nessa deliciosa viagem. Chorei algumas vezes, mas ri divertidamente várias outras.
E porque escrever mantém minhas lembranças frescas, encerro por aqui lembrando uma frase que marca essa semana: das razões prá festejar, o amor será sempre o maior porquê.
(essa crônica foi originalmente publicada no meu outro blog, o Criative-se ( www.criativesse.blogspot.com), onde posto todas as sextas-feiras. Por sugestão da Janaína Amado, do blog Acreditando no Truque, vou trazer alguns desses textos para aqui também. Obrigado, Janaína!!!)
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Para o dia de hoje
Prisão
E ao te ver fez-se o encanto,
misteriosa alquimia que desafia os sábios
e entorpece a razão.
Mas que razão há nesse canto?
Se só a infinita harmonia que explica o universo
e decifra meus códigos.
Que expõe descaradamente o que goteja e escorre.
E não há dique salvador que possa conter esse mar.
O som da tua alma cruzou o meu caminho
e eu só estendi a mão e segurei.
Há prisão mais libertadora?
E ao te ver fez-se o encanto,
misteriosa alquimia que desafia os sábios
e entorpece a razão.
Mas que razão há nesse canto?
Se só a infinita harmonia que explica o universo
e decifra meus códigos.
Que expõe descaradamente o que goteja e escorre.
E não há dique salvador que possa conter esse mar.
O som da tua alma cruzou o meu caminho
e eu só estendi a mão e segurei.
Há prisão mais libertadora?
sábado, 25 de abril de 2009
Sob a chuva
Ando sumida daqui, mas não ando sumida de mim. Tenho escrito tanto, falado tanto, andado pelos meandros da alma, buscando sempre algo que sei que habita em mim. Talvez meio sem saco, quem sabe devagarinho. Mas planejando o grande salto. Ando sentindo algum medo e isso alimenta, mas desconforta. Prá quem bebe na fonte das certezas, a chuva de dúvidas quase afoga.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Expiração
Na última semana, meu post no outro blog ( www.criativesse.blogspot.com) falava do aperto que me toma a alma quando a inspiração me foge e preciso fazer-me escrava não mais das palavras, mas da dor de não tê-las sob meu domínio. Uma amiga comentou que talvez aquele momento fugaz da não inspiração nada mais fosse do que a pausa para a expiração. Silenciosa e serena como a solidão, não raras vezes, se expressa.
Curiosamente, o tema da inspiração fugidia me cercou em dias seguidos. Não mais com os meus textos, os profissionais, emocionais ou confessionais, mas com os textos que li, dos autores que gosto, dos blogs que frequento e admiro. Revi essa angústia nos textos do Marcelo Martins, do Amenidades, a quem admiro pelo relato, pela forma, pelo conteúdo; nas palavras complexas e tocantes da Camila Tebet, do Esse Papo Também; na coluna semanal da Martha Medeiros na
Revista O Globo, no domingo, leitura que não perco e que preenche minhas manhãs cheirando a café; e também em alguns saborosos trechos do imperdível A Soma dos Dias, de Isabel Allende, alma repleta da sabedoria de viver, pungente e bem-humorada, as dores que as pedras impõem ao nosso caminho.
Pensei na coincidência, mas especialmente na argumentação de minha amiga. Estamos todos expirando? Renovando os ares, limpando os canos, abrindo os chacras, desimpedindo as chaminés? É bom pensar que sim. Esses períodos sabáticos sempre me são pródigos, mesmo quando me sinto afogar pelas palavras. Nessas horas respiro devagarzinho, poupo os órgãos, os gestos grandiloquentes. Nem sempre é tempo dos grandes e profundos mergulhos. Quem sabe uma molhadinha rápida na beira d'água; quem sabe um subida fugaz para pegar um ar.
Somos escravos da palavra, mas feitores também. A gente sempre coloca tudo em ordem. Seja a ordem do jeito que for.
Curiosamente, o tema da inspiração fugidia me cercou em dias seguidos. Não mais com os meus textos, os profissionais, emocionais ou confessionais, mas com os textos que li, dos autores que gosto, dos blogs que frequento e admiro. Revi essa angústia nos textos do Marcelo Martins, do Amenidades, a quem admiro pelo relato, pela forma, pelo conteúdo; nas palavras complexas e tocantes da Camila Tebet, do Esse Papo Também; na coluna semanal da Martha Medeiros na
Revista O Globo, no domingo, leitura que não perco e que preenche minhas manhãs cheirando a café; e também em alguns saborosos trechos do imperdível A Soma dos Dias, de Isabel Allende, alma repleta da sabedoria de viver, pungente e bem-humorada, as dores que as pedras impõem ao nosso caminho.
Pensei na coincidência, mas especialmente na argumentação de minha amiga. Estamos todos expirando? Renovando os ares, limpando os canos, abrindo os chacras, desimpedindo as chaminés? É bom pensar que sim. Esses períodos sabáticos sempre me são pródigos, mesmo quando me sinto afogar pelas palavras. Nessas horas respiro devagarzinho, poupo os órgãos, os gestos grandiloquentes. Nem sempre é tempo dos grandes e profundos mergulhos. Quem sabe uma molhadinha rápida na beira d'água; quem sabe um subida fugaz para pegar um ar.
Somos escravos da palavra, mas feitores também. A gente sempre coloca tudo em ordem. Seja a ordem do jeito que for.
terça-feira, 3 de março de 2009
A força dos atos e palavras
Os que me conhecem já ouviram falar disso. Sou do tipo que acredita realmente que é possível mudar o mundo. Eu posso mudar o mundo e não desisto dessa idéia. Ideologias à parte, acho que somos agentes de transformação e que não recebemos a benção de um cérebro tão sofisticado apenas para andar, falar, interagir, envelhecer e morrer. Quero mais! Muito mais! E na parte que me cabe, não posso prescindir da força inequívoca de meus atos e palavras - e não só os meus, mas o de todos - no objetivo de fazê-los instrumentos de interferência e argumentação. Acho que posso mudar cabeças tacanhas, fazendo-as apenas observar além dos antolhos que por vezes colocamos em nós mesmos. Quero romper com práticas que minimalizam a nossa capacidade de raciocinar, impondo modelos repetidos e que, de maneira geral, sempre nos frustram. Busco e distribuo palavras de afeto - às vezes nem tão afetuosas assim - porque fazer alguém confiante é o primeiro passo para fazê-lo acreditar que sonhar é mais do que dormir e metaforizar no subconsciente. Não raras vezes estou na contramão da história, batendo de frente com quem alimenta o imobilismo, aprisionado aos grilhões de uma vida metodicamente ditatorial.É claro que muitas vezes também não estou fazendo nada disso e preciso me despertar para voltar a acreditar que posso mudar o mundo, que sou responsável pelo o que me incomoda e que para desestabilizar as zonas de conforto é necessário enfrentar os recuos que o medo da mudança nos impõe.Não quero desistir disso, de acreditar nisso. Não quero me render ao imobilismo. Não quero ficar somente pragmática. Porque sem emoção não há como mudar o mundo. Somos cavaleiros errantes a crer em moinhos. E nem acho tudo isso um delírio. Não posso passar essa experiência de vida sem usar as mil e uma utilidades de meu cinto de Batman.Se isso tem ônus? Muitos. Às vezes, quase impagáveis. Mas já faz tempo que escolhi não esmorecer. Quando acho que não vou agüentar, fecho a porta e choro. E amargo o luto. Mas no dia seguinte volto à normalidade. O que não quer dizer que tudo isso seja o normal. Nem sei se é. Mas, quando ainda estudante universitária, aprendi a frase que guia a minha vida: quem não atua, compactua.
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Me faz melhor
Às vezes me sinto tão boba, tão infantil. Principalmente quando perco a métrica dos meus passos e, serena ou trôpega, dou importância e essencialidade ao que realmente não tem tanto valor. E até sofro, busco explicações, me sinto meio mártir, meio vítima.
Mas hoje realmente decidi relembrar para mim mesmo que Importante é sempre o que me faz melhor.
E nem me importo que assim o seja numa ótica completamente universal, fora dos meus conceitos pessoais e auto-perdoáveis.
Me faz melhor quem me ama e vê em mim o que nem sempre posso compreender ou perceber. Me faz melhor o que me inspira o instante tênue e bom do prazer.
Me faz melhor o que parece inatingível e que, ocasionalmente, se descortina ao meu olhar.
Me faz melhor quem me oferece a visão do que me escondo.
Me faz melhor acreditar que posso, mesmo quando a impotência é a única mão próxima.
Me faz melhor um dia de sol, sentir o luar, uma tarde sob a brisa, o abraço dos filhos, a compreensão do amor, a benção do raciocínio, a rapidez do instinto, o cheiro que reconheço, o sabor que traz lembranças, a certeza tão pequena e tão grande do amanhã
Mas hoje realmente decidi relembrar para mim mesmo que Importante é sempre o que me faz melhor.
E nem me importo que assim o seja numa ótica completamente universal, fora dos meus conceitos pessoais e auto-perdoáveis.
Me faz melhor quem me ama e vê em mim o que nem sempre posso compreender ou perceber. Me faz melhor o que me inspira o instante tênue e bom do prazer.
Me faz melhor o que parece inatingível e que, ocasionalmente, se descortina ao meu olhar.
Me faz melhor quem me oferece a visão do que me escondo.
Me faz melhor acreditar que posso, mesmo quando a impotência é a única mão próxima.
Me faz melhor um dia de sol, sentir o luar, uma tarde sob a brisa, o abraço dos filhos, a compreensão do amor, a benção do raciocínio, a rapidez do instinto, o cheiro que reconheço, o sabor que traz lembranças, a certeza tão pequena e tão grande do amanhã
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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Criative-se
Nunca pensei em fazer nada que não fôsse a profissão que exerço. Sempre quis ser jornalista e, dentro da carreira, já atravessei períodos solares e lunares. Escrevi de textos sobre economia à vida mundana das celebridades. Fui repórter, redatora, coordenadora editorial e nos últimos quatro anos sou gerente editorial de uma editora científica. Aliás, para os que não sabem, informo que faço há muitos anos jornalismo científico. 90% dos clientes da editora onde trabalho são empresas do segmento farmacêutico e seus projetos dirigidos à classe médica.
Ainda assim escrevo muito. No blog e no mundo real. Neste, obviamente, nem sempre com prazer ou mesmo inspiração. Ah...vale informar que acumulo a gerência comercial também, o que me leva não apenas ao mundo dos números, mas também para o da rentabilidade, juros, movimentação bancária, investimento, empréstimo.....grana, enfim.
Assim, como boa parte da população brasileira, passeio entre a realização e a necessidade financeira. Pessoal e da empresa também. E nesse liquidificador de emoções, que mistura o desejo do cliente, o palpite do cliente, o desconhecimento do cliente e a minha visão do projeto, do texto, do conceito editorial....nem sempre navego em águas calmas, muito menos com o delicioso sentimento da realização.
Foi pensando em tudo isso, e querendo voltar a viver o sonho social-libertário do ofício só pelo bem e o prazer do ofício, que pensei num espaço virtual onde estivessem reunidas pessoas que, como eu, gostariam de encontrar um espaço onde pudessem criar - e divulgar - o que fazem e sem a preocupação de fazer disso um caminho para ganhar dinheiro. Embora seja ótimo se a grana acontecer.
Enfim, em muito breve estará no ar o Criative-se ( www.criativesse.blogspot.com), espaço virtual onde eu e mais quatro profissionais liberais das áreas do Design Gráfico, Publicidade, Farmácia e Arquitetura, possamos ser mais do que experimentamos em nossas vidas profissionais. Ou seja, mentes criativas com espaço para produzir o que nos dá prazer e fazendo desse novo planeta um show-room colorido de nossas idéias e projetos nas áreas do design, fotografia, decoração, festas, drinks......e textos também, é claro. Uma palavra para tudo isso? Criative-se e será fácil entender e desejar
Bom...é sermpre tempo de ser mais feliz!
Ainda assim escrevo muito. No blog e no mundo real. Neste, obviamente, nem sempre com prazer ou mesmo inspiração. Ah...vale informar que acumulo a gerência comercial também, o que me leva não apenas ao mundo dos números, mas também para o da rentabilidade, juros, movimentação bancária, investimento, empréstimo.....grana, enfim.
Assim, como boa parte da população brasileira, passeio entre a realização e a necessidade financeira. Pessoal e da empresa também. E nesse liquidificador de emoções, que mistura o desejo do cliente, o palpite do cliente, o desconhecimento do cliente e a minha visão do projeto, do texto, do conceito editorial....nem sempre navego em águas calmas, muito menos com o delicioso sentimento da realização.
Foi pensando em tudo isso, e querendo voltar a viver o sonho social-libertário do ofício só pelo bem e o prazer do ofício, que pensei num espaço virtual onde estivessem reunidas pessoas que, como eu, gostariam de encontrar um espaço onde pudessem criar - e divulgar - o que fazem e sem a preocupação de fazer disso um caminho para ganhar dinheiro. Embora seja ótimo se a grana acontecer.
Enfim, em muito breve estará no ar o Criative-se ( www.criativesse.blogspot.com), espaço virtual onde eu e mais quatro profissionais liberais das áreas do Design Gráfico, Publicidade, Farmácia e Arquitetura, possamos ser mais do que experimentamos em nossas vidas profissionais. Ou seja, mentes criativas com espaço para produzir o que nos dá prazer e fazendo desse novo planeta um show-room colorido de nossas idéias e projetos nas áreas do design, fotografia, decoração, festas, drinks......e textos também, é claro. Uma palavra para tudo isso? Criative-se e será fácil entender e desejar
Bom...é sermpre tempo de ser mais feliz!
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Verbo: Sentir. Tempo: Presente
Fui ao primeiro encontro do grupo de meditação. Na verdade, esse é o primeiro degrau de uma escada que vou encarar como um mote para 2009. Abrir espaço para o auto-conhecimento; oferecer-me a possibilidade de um olhar endógeno que me permita - quem sabe - desenvolver ou explorar mais o meu sexto-sentido: a consciência do que sou e do que realmente pertence ao meu tempo presente.
Como bem disse o mestre do grupo, passamos a maior parte de nossas vidas entre o passado e o futuro, pensando nas marcas das histórias que carregamos ou no que planejamos para o depois. Mas ao presente mesmo, ao nosso tempo real e às múltiplas possibilidades que ele oferece, somos sempre parcimoniosos.
Sentir é o verbo do nosso presente. Quando sentimos faz-se a ponte que nos traz para o tempo de hoje. É curioso pensar nisso porque sentir representa sempre um novo olhar sobre a vida, sobre os amores, as dores que temos e as formas, ferramentas que dispomos para fazê-las melhores. Reconhecer o caminho da dor é descobrir onde queima os pés e pensar livremente sobre como ser capaz de mudar de rumo.
Não quero mais gastar tantas horas do meu dia a revolver a lama em busca do anel que ali deixei se perder. No tempo presente posso sim ser o jardineiro de um jardim onde flores nascem e morrem, onde há tempo de floração e de seca, onde há cores e espinhos. Mas posso limpar sempre esse jardim, revolver a terra e, principalmente, retirar as ervas daninhas, as folhas secas., o que ficou para trás e não mais me pertence. Posso adubar, plantar de novo.
É isso...preciso da nova planta sempre; do ciclo vital que começa e se renova. Só eu posso ver e mudar a minha vida, só eu conheço verdadeiramente o ciclo da minha história.
Virar a página, com toda a sabedoria adquirida, é a grande vibe.
Como bem disse o mestre do grupo, passamos a maior parte de nossas vidas entre o passado e o futuro, pensando nas marcas das histórias que carregamos ou no que planejamos para o depois. Mas ao presente mesmo, ao nosso tempo real e às múltiplas possibilidades que ele oferece, somos sempre parcimoniosos.
Sentir é o verbo do nosso presente. Quando sentimos faz-se a ponte que nos traz para o tempo de hoje. É curioso pensar nisso porque sentir representa sempre um novo olhar sobre a vida, sobre os amores, as dores que temos e as formas, ferramentas que dispomos para fazê-las melhores. Reconhecer o caminho da dor é descobrir onde queima os pés e pensar livremente sobre como ser capaz de mudar de rumo.
Não quero mais gastar tantas horas do meu dia a revolver a lama em busca do anel que ali deixei se perder. No tempo presente posso sim ser o jardineiro de um jardim onde flores nascem e morrem, onde há tempo de floração e de seca, onde há cores e espinhos. Mas posso limpar sempre esse jardim, revolver a terra e, principalmente, retirar as ervas daninhas, as folhas secas., o que ficou para trás e não mais me pertence. Posso adubar, plantar de novo.
É isso...preciso da nova planta sempre; do ciclo vital que começa e se renova. Só eu posso ver e mudar a minha vida, só eu conheço verdadeiramente o ciclo da minha história.
Virar a página, com toda a sabedoria adquirida, é a grande vibe.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Mantra do novo ano
Eu só quero ser feliz! Se existe mantra para repetir, e crer e construir no novo ano....é assim que quero que seja. E que venha do jeito que for: com dor ou prazer; atropelos ou delírios; tensão ou torpor. Porque ser feliz é sempre uma atitude revolucionária. Significa viver de olhos abertos para enxergar o que e para onde aponta aquele que sempre nos fala a verdade antes do crivo daquele que nos mente: nós mesmos.
Quero subverter minhas mais frequentes mentiras e reconhecer-me naquilo que é essencial, naquilo que me oferece o segundo fugaz da plenitude. Ser feliz é descrer da conquista efêmera, do estrelato vaidoso cujo palco nos faz personagens de comédia bufa. Porque os aplausos cegam e nos impedem o sutil e sereno trajeto sob a luz clarividente dos dias de sol. Ou de chuva fina.
Quero ser feliz para poder ver e inventar. Respirar para dentro e descobrir-me ou descubrir-me por fora. Criar o caminho onde meus passos tropeçam, mas não atropelam; onde ralo meus joelhos, mas sei da boa cura do sopro amoroso.
Quero ser feliz sem me importar com as conquistas, só com a vontade. À vontade. Quero ser feliz porque acredito e invisto no amor, inadvertido ou previsível; de risco ou com retorno garantido.
Quero a viagem, a procura, o encontro. Cavaleiro andante que ouve moinhos, lê estrelas e admira o mar.
Quero subverter minhas mais frequentes mentiras e reconhecer-me naquilo que é essencial, naquilo que me oferece o segundo fugaz da plenitude. Ser feliz é descrer da conquista efêmera, do estrelato vaidoso cujo palco nos faz personagens de comédia bufa. Porque os aplausos cegam e nos impedem o sutil e sereno trajeto sob a luz clarividente dos dias de sol. Ou de chuva fina.
Quero ser feliz para poder ver e inventar. Respirar para dentro e descobrir-me ou descubrir-me por fora. Criar o caminho onde meus passos tropeçam, mas não atropelam; onde ralo meus joelhos, mas sei da boa cura do sopro amoroso.
Quero ser feliz sem me importar com as conquistas, só com a vontade. À vontade. Quero ser feliz porque acredito e invisto no amor, inadvertido ou previsível; de risco ou com retorno garantido.
Quero a viagem, a procura, o encontro. Cavaleiro andante que ouve moinhos, lê estrelas e admira o mar.
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lê estrelas e admira o mar,
Ouve moinhos
domingo, 30 de novembro de 2008
A segunda palavra
O que não somos capazes de esquecer? Porque damos importância tão desmedida às palavras quando elas são apenas - e tantas vezes tão somente - uma forma de expressão e comunicação de seres tão erráticos como nós, humanos. A palavra é sim arma virulenta, doída, mas não letal. Sempre existe a possibilidade de uma segunda palavra, uma explicação, quem sabe o perdão. Já me senti tantas vezes profundamente atingida por palavras. Continuo me sentindo assim, mas das coisas que aprendemos com a vida - eu, pelo menos, aprendi - é que não posso me imobilizar por uma palavra cruel sem tentar retirar dela todo o veneno ou o antídoto que ali podem coexistir. Quero explicações, pergunto porquês, me submeto às argumentações, mas preciso sempre tentar. Explicar e me explicar. Ainda que não dê em nada, ainda que eu não resolva, que não me seja oferecido o benefício da explicação, que eu sofra por não me fazer entender ou perdoar, sempre quero a segunda palavra. Quero o lenitivo que me faz do lado de fora das histórias mal resolvidas. Aquelas das quais não podemos mais esquecer.
Estou novamente em fase pouco prolixa. Há quem diga que é o inferno astral dos capricornianos. Confesso que não me deixo tomar por essa teoria conspiratória dos astros, mas não tenho tido vontade de transformar observações e sentimentos em palavras. Quem sabe não as queira nem mesmo como veneno ou antídoto. Mas elas são sempre companheiras solidárias. Se escondem de mim quando não as vejo em sua expressão mais latente. Embora tantas vezes as chame e as use sem limite, exaustivamente.
Hoje, contudo, tive vontade de voltar ao blog e dizer do quanto me entristece ver pessoas a quem quero tão bem aprisionadas pela força de uma palavra mal colocada, uma frase perdida, errática, absolutamente humana. Não consigo compreender a impossibilidade do perdão. Não posso aceitar que não sejamos veículo de compreensão se temos o fantástico poder da segunda palavra.
Quero crer que nos cabe esse bem e esse uso. Pelo menos para que possamos dizer, ainda que para nós mesmos, que a tentativa foi feita.
Afinal, o que será que não podemos esquecer?
Estou novamente em fase pouco prolixa. Há quem diga que é o inferno astral dos capricornianos. Confesso que não me deixo tomar por essa teoria conspiratória dos astros, mas não tenho tido vontade de transformar observações e sentimentos em palavras. Quem sabe não as queira nem mesmo como veneno ou antídoto. Mas elas são sempre companheiras solidárias. Se escondem de mim quando não as vejo em sua expressão mais latente. Embora tantas vezes as chame e as use sem limite, exaustivamente.
Hoje, contudo, tive vontade de voltar ao blog e dizer do quanto me entristece ver pessoas a quem quero tão bem aprisionadas pela força de uma palavra mal colocada, uma frase perdida, errática, absolutamente humana. Não consigo compreender a impossibilidade do perdão. Não posso aceitar que não sejamos veículo de compreensão se temos o fantástico poder da segunda palavra.
Quero crer que nos cabe esse bem e esse uso. Pelo menos para que possamos dizer, ainda que para nós mesmos, que a tentativa foi feita.
Afinal, o que será que não podemos esquecer?
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Noite de furacão
Sim...não acredito em meia vida, meio mergulho, meia entrega. Sou vento em noite de furacão. Derrubo telhas, arranco portas, levanto tampas de bueiro...até tropeço e caio tantas vezes. Mas é bom demais voar ao sabor do vento forte. Às vezes me assusto, tenho medo e vontade de me esconder entre frestas. Mas sei que ali não há lugar para mim. Quero muito da vida, preciso de gente, de espaço e de luz. Acredito em constelações e sonho com o vôo por sobre as estrelas. O combustível para essa viagem está também nas pessoas que arregimento para o trajeto. Gosto disso. De dividir olhares sobre o que vemos. Porque não há um saber maior sobre o saber de todos. Amo a idéia da conquista, mas sou muito melhor quando somo e divido. Entre todos.
( quer saber??? nem sempre dá certo; às vezes estou absolutamente decepcionada e descrente. ainda bem que dura pouco. e que logo volto ao meu norte desencanado e crédulo. ainda bem)
( quer saber??? nem sempre dá certo; às vezes estou absolutamente decepcionada e descrente. ainda bem que dura pouco. e que logo volto ao meu norte desencanado e crédulo. ainda bem)
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Invento histórias
Outro dia, respondendo a um desafio da Joice Worm, do blog O Pequeno Milagre, fiz um acróstico e postei como comentário. Gostei da experiência. Jamais tinha feito; sequer tinha pensado em fazê-lo. E mais curioso ainda é que o fiz instantaneamente, sem me preocupar com forma; apenas com a obrigatoriedade de iniciar as frases com as letras do meu nome. Incrível foi perceber - e por isso reproduzo o acróstico aqui e até conto essa história - que a primeira palavra que veio à minha cabeça e iniciada com o "v" foi "verdade". Dali imediatamente completei: verdade que invento histórias. Porque é isso mesmo que sou: uma contadora e criadora de histórias, que se confundem de tal forma comigo, com minha vida, sonhos e delírios, que não sei mais de quem falo quando penso; de quem penso quando escrevo. Verdade que invento histórias. Essa também.
Verdade que invento histórias
E minto que vejo o que mora em mim
Rio ao reler o que escrevo
Olhar incrédulo sobre o que vi
Nada, contudo, parece estranho
Infinitamente próximo e real
Chego a pensar que sonhei
A vida, Verônica , é surpresa também.
( O desafio era da Joice. Mas quem quiser sentir-se desafiado, aí está!!!)
Verdade que invento histórias
E minto que vejo o que mora em mim
Rio ao reler o que escrevo
Olhar incrédulo sobre o que vi
Nada, contudo, parece estranho
Infinitamente próximo e real
Chego a pensar que sonhei
A vida, Verônica , é surpresa também.
( O desafio era da Joice. Mas quem quiser sentir-se desafiado, aí está!!!)
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Agora já era!!
Pronto...já era!!! Viramos adultos e tudo o que queremos é alguém que nos acuda, dissipe o que nos assusta, destrua o dragão que insiste em nos fustigar com labaredas incandescentes. Um super-herói indestrutível, a quem recorremos quando o trem por sobre a ponte insiste em tombar. Não importa se não verificamos os freios, se sequer conferimos a firmeza da ponte. Queremos que o mais forte ouça nossos apelos e venha em nosso auxílio.
Estamos todos boa parte de nossas vidas embaixo das mesas, escondidos das travessuras que fizemos, mas com os pés de fora. Qualquer um vê, mas brincamos de esconde-esconde e até nos convencemos de que o que passa em nossa cabeça é apenas o “making-off” da vida do vizinho.
Somos crianças vestidas de gente grande, de corpo avantajado e mente compulsoriamente madura. Não...não foi escolha, foi contingência.
E agora...já era!!! Não posso sentar na beira da calçada, chorar e chamar por minha mãe. Meus pensamentos antes delirantes viraram pensamentos pouco nobres. Quero sonhar e viver o sonho cotidianamente. Fazer da jabuticabeira meu quartel-general; da caixa de fósforos, um walkie-talkie poderoso; da bicicleta, minha nave “enterprise”.
Mas...já era!!! Estamos navegando em barquinhos de papel ao sabor do mar revolto. E os coletes salva-vidas furaram todos. Na ausência da fantástica escada que nos leva ao mundo maravilhoso de Alice, temos que vestir a capa da visibilidade e encarar. Com todas as encucações, pirações e devaneios que nos acompanham. Se isso significa olhar o espelho e não encontrar um mago a nos dizer de nossa incrível beleza e perfeição, que seja. Agora, meu irmão, já era!!!
Estamos todos boa parte de nossas vidas embaixo das mesas, escondidos das travessuras que fizemos, mas com os pés de fora. Qualquer um vê, mas brincamos de esconde-esconde e até nos convencemos de que o que passa em nossa cabeça é apenas o “making-off” da vida do vizinho.
Somos crianças vestidas de gente grande, de corpo avantajado e mente compulsoriamente madura. Não...não foi escolha, foi contingência.
E agora...já era!!! Não posso sentar na beira da calçada, chorar e chamar por minha mãe. Meus pensamentos antes delirantes viraram pensamentos pouco nobres. Quero sonhar e viver o sonho cotidianamente. Fazer da jabuticabeira meu quartel-general; da caixa de fósforos, um walkie-talkie poderoso; da bicicleta, minha nave “enterprise”.
Mas...já era!!! Estamos navegando em barquinhos de papel ao sabor do mar revolto. E os coletes salva-vidas furaram todos. Na ausência da fantástica escada que nos leva ao mundo maravilhoso de Alice, temos que vestir a capa da visibilidade e encarar. Com todas as encucações, pirações e devaneios que nos acompanham. Se isso significa olhar o espelho e não encontrar um mago a nos dizer de nossa incrível beleza e perfeição, que seja. Agora, meu irmão, já era!!!
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Crianças vestidas de gente grande
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Um encontro sempre emblemático
Adoro mãos! Especialmente o toque de mãos! Não há gesto mais intenso, emblemático e revelador. Posso - e muitas vezes o faço - me jogar superficialmente em gestos de carinho ou mesmo automáticos como o beijo no rosto de alguém que encontro, um abraço fugidio, a mão no ombro, o afago efêmero. Mas quando minhas mãos se encontram com outras mãos - além, é claro, do aperto simbólico de apresentação formal - faz-se mágica. Lembro de João, meu filho, a beliscar-me a parte de cima das mãos e a fazer deste gesto a certeza da minha presença. Recordo Ana Luiza, minha pequena grande filhota, a repetir sempre: "Quero segurar a mão da mamãe!" Caminhos percorridos, ruas atravessadas, o símbolo da segurança expressa em afeto e troca cármica. A mão firme de Carlos, eternamente ao alcance das minhas. A mão frágil de minha mãe, a pedir e dividir.
Dos amigos de verdade, no tempo em que a verdade pode ser contada, conheço e reconheço as mãos. E as seguro e afago, desobstruindo o percurso de dias eventualmente difíceis, compartilhando o calor emanado nos dias de êxtase e prazer.
Minhas digitais estão espalhadas por aí, muito além dos registros oficiais expressos em RGs ou passaportes. E também estou repleta delas porque são as marcas que realmente importam ou que levo comigo, herança exposta que não cabe nem pode aprisionar-se em cofres secretos.
Gosto de mãos, gosto de gente, gosto de afeto e história. Tudo ao mesmo tempo. Agora
Dos amigos de verdade, no tempo em que a verdade pode ser contada, conheço e reconheço as mãos. E as seguro e afago, desobstruindo o percurso de dias eventualmente difíceis, compartilhando o calor emanado nos dias de êxtase e prazer.
Minhas digitais estão espalhadas por aí, muito além dos registros oficiais expressos em RGs ou passaportes. E também estou repleta delas porque são as marcas que realmente importam ou que levo comigo, herança exposta que não cabe nem pode aprisionar-se em cofres secretos.
Gosto de mãos, gosto de gente, gosto de afeto e história. Tudo ao mesmo tempo. Agora
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Eternamente ao alcance das minhas
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Só sei
O pulo me cerca
E seca a cerca que cerquei em mim
Mas salto o cerco e me arranho
Arranco o rastro que rasga o rio,
rompendo ruas, risos, rusgas que percorri.
Cerco o muro que seca o pulo.
E salto...
Só sei do solo que sombreia,
só sei do sol,
só sei de mim.
E seca a cerca que cerquei em mim
Mas salto o cerco e me arranho
Arranco o rastro que rasga o rio,
rompendo ruas, risos, rusgas que percorri.
Cerco o muro que seca o pulo.
E salto...
Só sei do solo que sombreia,
só sei do sol,
só sei de mim.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Confrontos e conflitos
É verdade! Adoro um confronto. De idéias, de palavras, de emoções...Fora os momentos de silêncio ( que são poucos), nos demais gosto demais do debate, especialmente com os que pensam diferente, vivem a vida por outros caminhos que ainda não experimentei, que quebram minha métrica e me oferecem a possibilidade de um enfrentamento adrenalizante.
Isso nada tem a ver com conflito. A indisponibilidade de olhar por outro ângulo, as amarras cruéis às escolhas das quais não se tem nem mesmo certeza, a intepretação antolhada e reduzida de cada palavra, cada gesto, cada caminho escolhido, o desrespeito, o desamor, a descrença que impede a evolução e o crescimento....esses sim são fontes de conflito.
Não gosto de conflitos. Gosto demais do estado latente, daquela coisa que é viver respirando literalmente por todos os poros, faces, cantos, sinais, cores e equívocos de que somos compostos.
Tenho medo, sim. Insegurança, também. Recuos e avanços, muitas vezes. Reflexões imensas, quase sempre. E é bom logo avisar: gosto da vida intensa, do confronto, da adrenalina, mas discuto relação sempre. Sou DR até mesmo com os amigos.
Pensei em tudo isso hoje e depois de um longo tempo sem vontade de escrever ( no blog, é claro, porque tenho que fazê-lo, profissional e cotidianamente), vivendo alguns conflitos no trabalho, mas deliciosos confrontos, me sinto inteira pro fim de semana.
Nem acho que vai fazer sol no Rio, mas me sinto especialmente clara, diurna, de olhar e mente aguçados para ser o que sempre sou: uma errante otimista. Bom...nem tão errante assim.
Isso nada tem a ver com conflito. A indisponibilidade de olhar por outro ângulo, as amarras cruéis às escolhas das quais não se tem nem mesmo certeza, a intepretação antolhada e reduzida de cada palavra, cada gesto, cada caminho escolhido, o desrespeito, o desamor, a descrença que impede a evolução e o crescimento....esses sim são fontes de conflito.
Não gosto de conflitos. Gosto demais do estado latente, daquela coisa que é viver respirando literalmente por todos os poros, faces, cantos, sinais, cores e equívocos de que somos compostos.
Tenho medo, sim. Insegurança, também. Recuos e avanços, muitas vezes. Reflexões imensas, quase sempre. E é bom logo avisar: gosto da vida intensa, do confronto, da adrenalina, mas discuto relação sempre. Sou DR até mesmo com os amigos.
Pensei em tudo isso hoje e depois de um longo tempo sem vontade de escrever ( no blog, é claro, porque tenho que fazê-lo, profissional e cotidianamente), vivendo alguns conflitos no trabalho, mas deliciosos confrontos, me sinto inteira pro fim de semana.
Nem acho que vai fazer sol no Rio, mas me sinto especialmente clara, diurna, de olhar e mente aguçados para ser o que sempre sou: uma errante otimista. Bom...nem tão errante assim.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Legítimo
Nessa tarde chuvosa de domingo leio o livro de crônicas da Martha Medeiros - Doidas e Santas - e em um dos textos ela lembra dos dias em que não estamos para festa. Tudo corre em seu ritmo normal, mas os fatos de sempre ou os novos, um acontecimento, um olhar, a força das palavras, a expectativa ou a ausência que elas nos trazem ganham uma dimensão que nos empurra para a tristeza. A isso Martha define como " um sentimento tão legítimo como a alegria". E lembra: "...que nos deixem quietos que quietude é armazenamento de força e sabedoria....daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta".
Me identifico muito com essa descrição. Porque hoje, agora, nesse minuto, me sinto triste e quero a quietude. Para pensar justamente no que me entristece, ainda que sabendo que amanhã carregarei comigo o viço da crença do novo dia. Como o cheiro do mar que quebra na praia nas manhãs sem sol. Gostoso, inspirador, quase um parto que traz consigo o sorriso dos que acompanham aquela chegada.
Porque quero pensar em chegada e esquecer as partidas. Porque quero ver minha mãe tão frágil e só pensar em compartilhar mais e mais de todo o tempo bom e rico que, juntas, me permitirão fazê-la acarinhada. Porque minha vida também está registrada naquela pequenina figura a lembrar de mim como quem cuida e roga. Como quem oferece e solicita. Como quem chega e parte.
Minha mãe... meus filhos...hoje só quero tê-los todos no meu colo e ninar com a mais harmoniosa cantiga. E dizer de amor e falar de doce e canção; e lembrar de versos e bolas de gás; de amarelinha e purê de batata. Das noites de natal e velas de aniversário.
É só uma melancolia episódica que me faz lembrar do quanto a finitude me angustia.
Amanhã, mesmo que o sol não brilhe no céu, vou fazê-lo brilhante aos meus olhos míopes.
Me identifico muito com essa descrição. Porque hoje, agora, nesse minuto, me sinto triste e quero a quietude. Para pensar justamente no que me entristece, ainda que sabendo que amanhã carregarei comigo o viço da crença do novo dia. Como o cheiro do mar que quebra na praia nas manhãs sem sol. Gostoso, inspirador, quase um parto que traz consigo o sorriso dos que acompanham aquela chegada.
Porque quero pensar em chegada e esquecer as partidas. Porque quero ver minha mãe tão frágil e só pensar em compartilhar mais e mais de todo o tempo bom e rico que, juntas, me permitirão fazê-la acarinhada. Porque minha vida também está registrada naquela pequenina figura a lembrar de mim como quem cuida e roga. Como quem oferece e solicita. Como quem chega e parte.
Minha mãe... meus filhos...hoje só quero tê-los todos no meu colo e ninar com a mais harmoniosa cantiga. E dizer de amor e falar de doce e canção; e lembrar de versos e bolas de gás; de amarelinha e purê de batata. Das noites de natal e velas de aniversário.
É só uma melancolia episódica que me faz lembrar do quanto a finitude me angustia.
Amanhã, mesmo que o sol não brilhe no céu, vou fazê-lo brilhante aos meus olhos míopes.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
O jogo do risco
Outro dia, durante a minha aula de espanhol, o professor me perguntou: “?Tu eres afortunada?” Respondi que sim. Claro que sou. Não o tempo todo, mas até acho que na maior parte do tempo em que me é dado tempo para pensar nisso. Porque a pressão do ser feliz é fardo também. Sei que fui e sou, mas muitas vezes não fui e não sou. Pelo menos se interpretar tudo isso à luz do delirante mundo do "home sweet home" ou do “para sempre”.
É preciso ter coragem para não ser feliz. E audácia, ousadia, desprendimento. Não quero me amedrontar diante da dor porque ela é fermento e razão para o meu crescimento. Fui infeliz hoje em vários momentos. Mas um sorriso me fez muito feliz. Sem romantismos idílicos. Apenas sentimento. Me impressiona um pouco o medo do risco apenas pelo risco da dor que isso me trará.
Se o risco é inerente ao jogo, quero jogar e me jogar por inteira. Se o joelho ralar, se a lágrima escorrer, se a chuva cair, se a noite chegar...que seja bem-vinda. Porque no dia seguinte vou jogar novamente. Quem quiser que entre no time...ou assista da arquibancada.
É preciso ter coragem para não ser feliz. E audácia, ousadia, desprendimento. Não quero me amedrontar diante da dor porque ela é fermento e razão para o meu crescimento. Fui infeliz hoje em vários momentos. Mas um sorriso me fez muito feliz. Sem romantismos idílicos. Apenas sentimento. Me impressiona um pouco o medo do risco apenas pelo risco da dor que isso me trará.
Se o risco é inerente ao jogo, quero jogar e me jogar por inteira. Se o joelho ralar, se a lágrima escorrer, se a chuva cair, se a noite chegar...que seja bem-vinda. Porque no dia seguinte vou jogar novamente. Quem quiser que entre no time...ou assista da arquibancada.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Algo que é divino
Dias de sol e céu azul são bençãos divinas. Me fazem um bem imenso. Parece que sou capaz de respirar o ar mais puro e com ele me purificar, eliminar as toxinas dos pensamentos tortos, destilar a fonte do devaneio momentâneo.
Se esse cenário ainda incluir o mar,...só para olhar, só para sentir o cheiro, só para ouvir o barulho das ondas...aí sim posso dizer do reconhecimento de Deus na minha vida.
Li uma crônica da Marta Medeiros falando sobre a forma como ela entende a presença de Deus em sua vida. Enquanto lia pensei sobre o meu conforto d´alma quando diante de momentos de delicioso prazer - segundos, às vezes - posso sentir-me próxima da idéia de um olhar afetuoso e divino sobre mim.
Já falei aqui no blog sobre encantamento. E acho mesmo que essa alegoria do encanto mágico me faz compreender ou tornar palpável essa relação com a energia divina, absolutamente fraterna e generosa. Vivo isso nos momentos em que as manifestações de amor me cercam, que os filhos me enternecem, que a bondade intrínseca de alguém me entusiasma, que a palavra serena é a gota que falta para adoçar a dor, que o sol e o céu azul brilham na minha vida.
Acho que reconheço Deus nesses momentos.
Se esse cenário ainda incluir o mar,...só para olhar, só para sentir o cheiro, só para ouvir o barulho das ondas...aí sim posso dizer do reconhecimento de Deus na minha vida.
Li uma crônica da Marta Medeiros falando sobre a forma como ela entende a presença de Deus em sua vida. Enquanto lia pensei sobre o meu conforto d´alma quando diante de momentos de delicioso prazer - segundos, às vezes - posso sentir-me próxima da idéia de um olhar afetuoso e divino sobre mim.
Já falei aqui no blog sobre encantamento. E acho mesmo que essa alegoria do encanto mágico me faz compreender ou tornar palpável essa relação com a energia divina, absolutamente fraterna e generosa. Vivo isso nos momentos em que as manifestações de amor me cercam, que os filhos me enternecem, que a bondade intrínseca de alguém me entusiasma, que a palavra serena é a gota que falta para adoçar a dor, que o sol e o céu azul brilham na minha vida.
Acho que reconheço Deus nesses momentos.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Interlúdio
Nem toco nas paredes.
Me esgueiro entre os corredores e as palavras,
entre os gestos e os olhares.
Qualquer centelha pode fazer fogo.
Nem quero me ferir.
Me escondo atrás da porta,
entre bolsas e sapatos em desuso.
Falo pouco, lembro menos.
Qualquer movimento pode acelerar o tempo.
Um tempo em que eu não era criança
e nem podia temer o vindouro.
Piso devagar, nem faço barulho.
Adio a vida, o toque, o susto, o riso e a dor.
Ninguém me percebe atravessando a rua.
Esperto disfarce de fada, maga ladina a brincar de esconde.
Lá na frente é hora do banho, do sono.
Talvez eu nem durma.
E então abra os olhos
Me esgueiro entre os corredores e as palavras,
entre os gestos e os olhares.
Qualquer centelha pode fazer fogo.
Nem quero me ferir.
Me escondo atrás da porta,
entre bolsas e sapatos em desuso.
Falo pouco, lembro menos.
Qualquer movimento pode acelerar o tempo.
Um tempo em que eu não era criança
e nem podia temer o vindouro.
Piso devagar, nem faço barulho.
Adio a vida, o toque, o susto, o riso e a dor.
Ninguém me percebe atravessando a rua.
Esperto disfarce de fada, maga ladina a brincar de esconde.
Lá na frente é hora do banho, do sono.
Talvez eu nem durma.
E então abra os olhos
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Minhas teorias sobre amor e encantamento
Das coisas que ouvi ontem, uma das que mais me fez pensar foi sobre o desafio que proponho da permanência do encantamento. Gosto mesmo de manter as relações pessoais no limiar gostoso da sedução porque isso faz bem para mim, me alimenta, exercita minha capacidade de conquistar e, principalmente, de fazer a manutenção dessa conquista. Parece cartersiano demais, não é? E até ouvi isso ontem também. Tenho um lado bem prático, que não raras vezes organiza o pensamento e até mesmo as emoções na direção de objetivos definidos. É claro que tudo é um jogo, que pode dar certo ou não, que posso vencer ou não e que sobre o qual é sempre possível a mudança de ritmo ou de direção. Mas do encantamento não posso abrir mão. Gosto demais desse estado latente que aquece minh´alma, aguça meus sentidos, estimula minha criatividade emocional na busca da percepção do outro sobre o meu encantamento ou, o que é melhor ainda, no envolvimento do outro nessa saborosa viagem da sintonia e do amor.
Não sei se os que me lêem acham tudo isso meio louco ou se, ao contrário, vão comigo concordar. Somos todos marionetes e manipuladores. E nem vejo nisso nada tão cruel. Na verdade, não gosto de viver histórias ou relações sobre as quais não tenho nenhum controle. Posso até perder um pouco as rédeas pelo caminho, quem sabe afrouxá-las ao sabor da deliciosa viagem, e até experimentar o fato de que minhas mãos não são tão fortes ou capazes de conter a fúria boa desse encantamento. Mas, sim, gosto de segurar a cordinha. Os que me descobrem e que por mim se encantam vão logo saber que também podem puxá-la, porque eu deixo, porque eu quero, porque eu gosto. Não há usurpação no amor de verdade. Só encantamento.
Não sei se os que me lêem acham tudo isso meio louco ou se, ao contrário, vão comigo concordar. Somos todos marionetes e manipuladores. E nem vejo nisso nada tão cruel. Na verdade, não gosto de viver histórias ou relações sobre as quais não tenho nenhum controle. Posso até perder um pouco as rédeas pelo caminho, quem sabe afrouxá-las ao sabor da deliciosa viagem, e até experimentar o fato de que minhas mãos não são tão fortes ou capazes de conter a fúria boa desse encantamento. Mas, sim, gosto de segurar a cordinha. Os que me descobrem e que por mim se encantam vão logo saber que também podem puxá-la, porque eu deixo, porque eu quero, porque eu gosto. Não há usurpação no amor de verdade. Só encantamento.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Personagens
Já fui tantas pessoas por aqui e todas se fizeram voz através de minhas letras. Bem ou mal escritas, todas tiveram vez. Não sou cruel com elas, personagens que carrego e que vão se revezando em eventuais apresentações. Seja em circo mambembe do interior ou na gala grandiosa do imponente teatro. Sou tudo isso e é nesse grande mix de egos e almas que construo minha história.
Minha personagem de hoje perdeu-se de suas certezas e afundou na movediça areia da dúvida. Galhos e cordas cercam-me de oportunidades, mas dói pensar que tenho que escolher uma delas. Não queria decidir, apenas apontar. E somente a luz desse dedo mágico já iluminaria o cristalino caminho do que é melhor para mim.
Minha personagem de hoje perdeu-se de suas certezas e afundou na movediça areia da dúvida. Galhos e cordas cercam-me de oportunidades, mas dói pensar que tenho que escolher uma delas. Não queria decidir, apenas apontar. E somente a luz desse dedo mágico já iluminaria o cristalino caminho do que é melhor para mim.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Reconstruindo
Alguns acontecimentos me vulnerabilizam de forma tão preciosa que me sinto tentada a discuti-los incessantemente até que a zona do conforto novamente me permita o olhar racional. Gosto da idéia do encantamento e ainda que racionalize minhas emoções, não há nada mais prazeroso do que a harmonia eventualmente expressa entre o que sonhamos e o que vemos sonhar nos olhos dos que nos cercam. Penso sempre que isso vale para todas as nossas formas e expressões de amor, das íntimas às fraternais.
Já disse em algum post aí prá baixo do quanto me permito a idéia de que posso mudar o mundo, de que sou artífice da grande aventura de transformar, a mim e aos que me cercam. Não necessariamente para melhor, embora o objetivo - ainda que tortuoso - seja sempre esse. Mas nessa cruzada nada bíblica, as tormentas são infindas; as conquistas, gloriosas; e as decepções, nas raras vezes, épicas. Porque no meu sonho e na minha "vibe", muitos embarcam, mas também saltam antes do ponto final.
Esse é só o relato de uma decepção pessoal, expressa num acontecimento do meu cotidiano profissional e que, sem dúvida, me vulnerabilizou além do que posso, momentaneamente, compreender. Me sinto ingenuamente traída em propósitos sobre os quais só tenho o olhar nobre. Talvez o equívoco seja esse: preciso reconhecer que ao largo de meus sonhos estão os delírios; que eles talvez sejam apenas expressões do espírito humano errático; que faço parte desse mundo de desvios e falhas também; que se não tenho - e não tenho mesmo - o desejo alienante de formar um exército de iguais, as diferenças, surpresas e decepções fazem parte do jogo.
Não sou tão boazinha assim a ponto de engolir fácil as sensações de injustiça ou manipulação que experimento. Muito pelo contrário. E falar disso por aqui também me oferece a aspirina sanativa do desabafo. Não sou melhor e nem pior que ninguém. Não perder esse foco, essa ótica, certamente me ajudará na percepção de que nem sempre escolhemos o nosso caminho, mas podemos reconstrui-lo sempre. Acredito nisso. E hoje começo, mais uma vez, a reconstrução.
Já disse em algum post aí prá baixo do quanto me permito a idéia de que posso mudar o mundo, de que sou artífice da grande aventura de transformar, a mim e aos que me cercam. Não necessariamente para melhor, embora o objetivo - ainda que tortuoso - seja sempre esse. Mas nessa cruzada nada bíblica, as tormentas são infindas; as conquistas, gloriosas; e as decepções, nas raras vezes, épicas. Porque no meu sonho e na minha "vibe", muitos embarcam, mas também saltam antes do ponto final.
Esse é só o relato de uma decepção pessoal, expressa num acontecimento do meu cotidiano profissional e que, sem dúvida, me vulnerabilizou além do que posso, momentaneamente, compreender. Me sinto ingenuamente traída em propósitos sobre os quais só tenho o olhar nobre. Talvez o equívoco seja esse: preciso reconhecer que ao largo de meus sonhos estão os delírios; que eles talvez sejam apenas expressões do espírito humano errático; que faço parte desse mundo de desvios e falhas também; que se não tenho - e não tenho mesmo - o desejo alienante de formar um exército de iguais, as diferenças, surpresas e decepções fazem parte do jogo.
Não sou tão boazinha assim a ponto de engolir fácil as sensações de injustiça ou manipulação que experimento. Muito pelo contrário. E falar disso por aqui também me oferece a aspirina sanativa do desabafo. Não sou melhor e nem pior que ninguém. Não perder esse foco, essa ótica, certamente me ajudará na percepção de que nem sempre escolhemos o nosso caminho, mas podemos reconstrui-lo sempre. Acredito nisso. E hoje começo, mais uma vez, a reconstrução.
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