quarta-feira, 25 de março de 2009

Expiração

Na última semana, meu post no outro blog ( www.criativesse.blogspot.com) falava do aperto que me toma a alma quando a inspiração me foge e preciso fazer-me escrava não mais das palavras, mas da dor de não tê-las sob meu domínio. Uma amiga comentou que talvez aquele momento fugaz da não inspiração nada mais fosse do que a pausa para a expiração. Silenciosa e serena como a solidão, não raras vezes, se expressa.
Curiosamente, o tema da inspiração fugidia me cercou em dias seguidos. Não mais com os meus textos, os profissionais, emocionais ou confessionais, mas com os textos que li, dos autores que gosto, dos blogs que frequento e admiro. Revi essa angústia nos textos do Marcelo Martins, do Amenidades, a quem admiro pelo relato, pela forma, pelo conteúdo; nas palavras complexas e tocantes da Camila Tebet, do Esse Papo Também; na coluna semanal da Martha Medeiros na
Revista O Globo, no domingo, leitura que não perco e que preenche minhas manhãs cheirando a café; e também em alguns saborosos trechos do imperdível A Soma dos Dias, de Isabel Allende, alma repleta da sabedoria de viver, pungente e bem-humorada, as dores que as pedras impõem ao nosso caminho.

Pensei na coincidência, mas especialmente na argumentação de minha amiga. Estamos todos expirando? Renovando os ares, limpando os canos, abrindo os chacras, desimpedindo as chaminés? É bom pensar que sim. Esses períodos sabáticos sempre me são pródigos, mesmo quando me sinto afogar pelas palavras. Nessas horas respiro devagarzinho, poupo os órgãos, os gestos grandiloquentes. Nem sempre é tempo dos grandes e profundos mergulhos. Quem sabe uma molhadinha rápida na beira d'água; quem sabe um subida fugaz para pegar um ar.
Somos escravos da palavra, mas feitores também. A gente sempre coloca tudo em ordem. Seja a ordem do jeito que for.

terça-feira, 3 de março de 2009

A força dos atos e palavras

Os que me conhecem já ouviram falar disso. Sou do tipo que acredita realmente que é possível mudar o mundo. Eu posso mudar o mundo e não desisto dessa idéia. Ideologias à parte, acho que somos agentes de transformação e que não recebemos a benção de um cérebro tão sofisticado apenas para andar, falar, interagir, envelhecer e morrer. Quero mais! Muito mais! E na parte que me cabe, não posso prescindir da força inequívoca de meus atos e palavras - e não só os meus, mas o de todos - no objetivo de fazê-los instrumentos de interferência e argumentação. Acho que posso mudar cabeças tacanhas, fazendo-as apenas observar além dos antolhos que por vezes colocamos em nós mesmos. Quero romper com práticas que minimalizam a nossa capacidade de raciocinar, impondo modelos repetidos e que, de maneira geral, sempre nos frustram. Busco e distribuo palavras de afeto - às vezes nem tão afetuosas assim - porque fazer alguém confiante é o primeiro passo para fazê-lo acreditar que sonhar é mais do que dormir e metaforizar no subconsciente. Não raras vezes estou na contramão da história, batendo de frente com quem alimenta o imobilismo, aprisionado aos grilhões de uma vida metodicamente ditatorial.É claro que muitas vezes também não estou fazendo nada disso e preciso me despertar para voltar a acreditar que posso mudar o mundo, que sou responsável pelo o que me incomoda e que para desestabilizar as zonas de conforto é necessário enfrentar os recuos que o medo da mudança nos impõe.Não quero desistir disso, de acreditar nisso. Não quero me render ao imobilismo. Não quero ficar somente pragmática. Porque sem emoção não há como mudar o mundo. Somos cavaleiros errantes a crer em moinhos. E nem acho tudo isso um delírio. Não posso passar essa experiência de vida sem usar as mil e uma utilidades de meu cinto de Batman.Se isso tem ônus? Muitos. Às vezes, quase impagáveis. Mas já faz tempo que escolhi não esmorecer. Quando acho que não vou agüentar, fecho a porta e choro. E amargo o luto. Mas no dia seguinte volto à normalidade. O que não quer dizer que tudo isso seja o normal. Nem sei se é. Mas, quando ainda estudante universitária, aprendi a frase que guia a minha vida: quem não atua, compactua.